Título: CPI aponta empresas privadas que também teriam abastecido valerioduto
Autor: Adriana Vasconcelos
Fonte: O Globo, 22/12/2005, O País, p. 4

Relator cita Amazônia Celular, Telemig, Cosipa, Usiminas e Brasil Telecom

BRASÍLIA. A CPI dos Correios começou a identificar fontes privadas do valerioduto. Na prestação de contas apresentada ontem pelo relator da comissão, Osmar Serraglio (PMDB-PR), estão detalhados pagamentos feitos pela Brasil Telecom à DNA. O relator citou ainda outras quatro empresas: Amazônia Celular, Telemig, Cosipa e Usiminas.

Segundo o relator, em 2003 a DNA teria se apropriado de pelo menos R$823.500 pagos pela Brasil Telecom apresentando notas de subcontratadas que nunca receberam os repasses.

- Neste caso foi constatado um procedimento fraudulento para justificar o recebimento de recursos de uma empresa - ressalta o relator adjunto da CPI, Eduardo Paes (PSDB-RJ).

O mesmo subterfúgio teria sido usado com outros fornecedores da DNA. Como a Nacional Coml Ltda, que teria prestado serviço à Visanet e apresentado a nota fiscal 000711 de novembro de 2003, no valor de R$2,5 milhões. A empresa, no entanto, só teria sido parcialmente paga dia 14 de novembro de 2004, recebendo R$1,9 milhões. A diferença de R$579.500 teria sido aplicada em fundo de investimento do BB na mesma data.

DNA teria recebido R$3,4 milhões adiantados

Entre julho e dezembro de 2004, a DNA teria recebido adiantados da Brasil Telecom R$3,4 milhões por serviços que só teriam sido prestados em 2005 e com baixa qualidade, segundo auditoria da própria empresa. Em julho de 2004, a agência teria repassado pelo menos R$3 milhões para três tradings: Athenas, By e Telônios.

A CPI está solicitando mais informações para investigar a discrepância entre os pagamentos da Telemig e Amazônia Celular e as notas fiscais emitidas a partir de abril de 2005. A comissão pretende aprofundar a apuração sobre os pagamentos realizados por Usiminas e Cosipa em favor das empresas de Marcos Valério, que teriam sido repassados a parlamentares, como os deputados Roberto Brant (PFL-MG) e Romeu Queiroz (PTB-MG).

A Brasil Telecom informou que não vai comentar o relatório. A Telemig e a Amazônia Celular devem se pronunciar só quando receberem o documento integral. Não foi encontrado representante da Usiminas, que tem a Cosipa como empresa do seu grupo, para responder.

Valério: empréstimos são única fonte

Em nota, empresário diz que 'documentos legítimos' comprovam negócios

O empresário Marcos Valério disse ontem, em nota, que os empréstimos feitos nos bancos Rural e BMG a pedido do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares são "a única fonte dos recursos financeiros repassados ao PT e aos representantes de partidos aliados". No texto, Valério afirma que os repasses foram feitos "seguindo orientações do ex-tesoureiro" e estão comprovados por "documentos legítimos".

Na nota, Valério reafirma que obteve seis empréstimos, no valor total de R$55 milhões, nos dois bancos. Ainda de acordo com o empresário, Delúbio confirmou o pedido dos empréstimos e os repasses. Segundo o texto, os dois bancos, "após sucessivas renovações dos contratos de empréstimos", ajuizaram execuções contra as empresas devedoras e os avalistas, inclusive Valério e seus sócios. E, sem conseguir chegar a um acordo com o PT para o pagamento, o empresário e suas agências "ajuizaram ações de cobrança contra o partido, no valor de R$100 milhões".

Na nota, Valério destaca que a DNA "fez trabalhos publicitários para a Visanet, os quais não têm relação com o contrato entre a agência e o Banco do Brasil". Ainda segundo o empresário, a Visanet é uma empresa privada e "logo, não há recursos públicos". No texto, Valério diz ainda que a agência já enviou à diretoria de Marketing do BB uma notificação extrajudicial, na qual demonstra que a DNA é credora de R$12.982.687,44, o que comprovaria, segundo ele, que os recursos recebidos da Visanet não foram fonte de repasses ao PT.

A nota diz ainda que a Brasil Telecom, a Telemig Celular e a Amazônia Celular são clientes das agências DNA e SMP&B há muitos anos e "sempre receberam os serviços prestados de propaganda e fizeram pagamentos pelos mesmos".

Legenda da foto: EDUARDO PAES: há prova de procedimento fraudulento para justificar o recebimento de recursos