Título: ARQUIVOS DA DITADURA SÃO LIBERADOS PARA FAMÍLIAS
Autor: Cristiane Jungblut/Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 22/12/2005, O País, p. 13

Documentos produzidos até 1975 ficam abertos para consulta, mas só parentes das vítimas terão acesso irrestrito

BRASÍLIA. O governo transferiu ontem arquivos e documentos do período da ditadura para o Arquivo Nacional de Brasília. Serão liberados para consulta documentos datados até 1975. Após esse ano, o acesso depende da classificação (secreto ou ultra-secreto). Nesse caso, os papéis podem levar de 20 a 30 anos para se tornarem públicos. Os arquivos estarão abertos a consulta pública, mas os nomes dos envolvidos terão que ser preservados, assim como sua intimidade, vida privada, honra e imagem. Acesso irrestrito somente aos parentes.

- Os documentos estão deixando de ser parte do serviço de inteligência e passam a fazer parte da História. Serão um importante objeto de reflexão para a sociedade - disse a chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff.

Documentos estavam guardados em três lugares

Ao anunciar a liberação dos arquivos, Dilma se emocionou.

- Não tenho como não ficar emocionada. Este é um momento importante da redemocratização. Sou fruto desse momento - disse Dilma, que foi presa política e chegou a ser torturada.

Perguntada se os arquivos podem apontar os algozes dos ativistas, ela respondeu:

- Seria muita ingenuidade acreditar nisso.

Os documentos estavam com o extinto Serviço Nacional de Informações (SNI), o Conselho de Segurança Nacional (CSN) e a Comissão Geral de Investigações (CGI). O SNI mantinha arquivos das Forças Armadas, da Polícia Federal, do Dops e das secretarias de Segurança Pública. O CSN guardava documentos das cassações políticas. Os papéis da CGI envolvem casos de enriquecimento ilícito.

Após a posse do novo secretário especial de Direitos Humanos, Paulo Vannuchi, Lula disse que os arquivos estão sendo abertos no momento certo:

- Só podia ser aberto quando a gente estivesse preparado. É muita coisa para você prestar informação para a sociedade. Dilma fez no momento certo. Zé Dirceu já tinha trabalhado. É a sequência de tudo que vem acontecendo desde a Proclamação da República.

Legenda da foto: DILMA, DE olhos marejados: "Não tenho como não ficar emocionada"