Título: MST ACUSA GOVERNO DE MAQUIAR OS NÚMEROS SOBRE REFORMA AGRÁRIA
Autor: Carolina Brígido
Fonte: O Globo, 23/12/2005, O País, p. 11

Ministério diz ter entregado lotes para 117.500 famílias este ano

BRASÍLIA. O Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST) acusou o governo federal de maquiar os dados divulgados ontem sobre o número de famílias assentadas no programa de reforma agrária. Segundo o Ministério do Desenvolvimento Agrário, este ano foram entregues lotes para 117.500 famílias, o que supera em 2.500 famílias a meta traçada para este ano.

Em nota oficial, o MST afirmou que esses números não correspondem à realidade. O documento também critica a política econômica e compara a administração de Luiz Inácio Lula da Silva à do ex-presidente Fernando Henrique.

"Assim como a política econômica do governo Lula, a política de reforma agrária nada tem de original e repete os mesmos passos do governo FH: inflaciona os verdadeiros números de assentamentos". O MST acusa o governo de contar a reposição de lotes em assentamentos antigos como novos e de deixar famílias vivendo em assentamentos precários na Região Norte.

O MST afirma ainda que o crédito fundiário, destinado a trabalhadores rurais para a compra de terras, não passa de uma "premiação aos latifundiários improdutivos, que têm suas terras compradas à vista, enquanto milhares de agricultores iludidos endividam-se para pagá-las". O MST também sugere que seja formada uma comissão de auditoria composta por setores da sociedade civil, para visitar e verificar a suposta situação precária dos assentamentos no país.

Foram assentadas 235 mil famílias nos últimos 3 anos

Os dados divulgados ontem pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário mostram que, na gestão de Fernando Henrique, foram assentadas 67.588 famílias por ano, em média. No governo Lula, o número aumentou para 78.352. Nos últimos três anos, foram assentadas 235 mil famílias. Também aumentou a área destinada à reforma agrária. Durante a segunda gestão de Fernando Henrique, foram utilizados 8,8 milhões de hectares de terras; nos três anos de governo Lula, foram designados 16,3 milhões de hectares.

- Estamos muito animados com esses números - disse o ministro Miguel Rossetto.

O ministro admitiu que muitas famílias assentadas ainda vivem em condições precárias, mas já têm seu lote. Ele disse que, no início de 2006, todos os assentados terão recebido recursos. "Lamentavelmente, o que o ministro comemora hoje é uma política que não desconcentra a propriedade da terra e não distribui renda, premiando o latifúndio e que assemelha-se mais aos projetos de colonização da Amazônia do regime militar, do que qualquer coisa que pudesse ser chamada de reforma agrária", afirma o MST.