Título: Noitada de Maradona no Rio acaba mal
Autor: Taís Mendes
Fonte: O Globo, 23/12/2005, Rio, p. 25

Ex-jogador argentino é preso por desacato em tumulto no aeroporto

Após participar da festa promovida por Zico anteontem, jantar churrasco com vinho e prosecco e virar a noite numa boate, o ex-jogador argentino Diego Armando Maradona foi preso ontem de manhã, no Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio, por desacato à autoridade. Acompanhado de quatro amigos argentinos, entre eles o ex-jogador Mancuso, Maradona deveria embarcar às 7h30m para Buenos Aires, mas errou o terminal e, ao perder o vôo, se irritou, xingando policiais federais e funcionários da TAM. Na confusão, dois amigos argentinos que estavam no grupo arrombaram a porta do finger (plataforma de embarque sanfonada que dá acesso ao avião). Os cinco argentinos ficaram detidos por cinco horas na Polícia federal do aeroporto, negaram-se a fazer o exame de embriaguez e embarcaram para Buenos Aires às 16h.

Maradona foi autuado por desacato e dois de seus amigos foram autuados por danos. Os argentinos prestaram depoimento, assinaram um termo circunstanciado (espécie de inquérito sumário feito em casos de crime leve) e foram liberados. O cônsul da Argentina, Agostín Molina, esteve no Tom Jobim e negociou a liberação do ex-jogador e de seus amigos. Antes, porém, a PF determinou que fossem feitos exames de corpo de delito e embriaguez no grupo, mas Maradona e seus amigos se recusaram. O diretor do Instituto Médico-Legal, Roger Ancilotti, foi ao aeroporto, mas nada pôde fazer.

Pena por desacato vai de 6 meses a 2 anos

Diante do compromisso de retornarem ao Brasil caso sejam convocados pela Justiça, Maradona e seus amigos foram liberados. Segundo a PF, o ex-jogador também se prontificou a pagar a porta danificada. O crime por desacato prevê pena de seis meses a dois anos de prisão. Já a pena para o crime de danos é de seis meses a três anos.

- O grupo chegou às 6h30m, fez o check-in e se dirigiu ao terminal internacional, mas o vôo decolaria do outro terminal. Quando chegaram ao local certo, o avião já estava taxiando. Eles discutiram com funcionários da TAM, que chamaram a PF. Dois do grupo arrombaram uma das portas da plataforma e Maradona, nervoso, xingou os agentes - contou o delegado da PF Marcelo Nogueira.

Segundo o delegado, a confusão foi flagrada pelo sistema interno de TV do aeroporto:

- As imagens mostram Maradona xingando os policiais, mas depois ele ficou calmo.

Alan Espinosa, sócio de empresa Eagle, que promoveu a vinda do ex-jogador ao Brasil, também esteve no aeroporto e alegou que Maradona não participou da confusão:

- O que aconteceu foi erro de comunicação. E o Maradona não fez nada, ficou o tempo todo sentado. Um amigo dele é que segurou a porta. Não teve violência. Faltou sensibilidade dos funcionários da TAM.

Logo após o jogo, que terminou por volta das 22h30m de quarta-feira, Maradona ficou numa área isolada de um dos vestiários do Centro de Futebol Zico, no Recreio, com seus amigos. Conversou com Zico, sentado à beira de um dos alambrados, e foi tomar banho. Ao sair, de short branco e sem camisa, sentou-se numa cadeira e pediu para ser abanado com uma toalha. Pouco depois, em companhia de Mancuso e seus amigos argentinos, pediu charutos cubanos - hábito que adquiriu com Fidel Castro - deu autógrafos e uma rápida entrevista antes de sair numa van para a churrascaria Porcão, da Barra.

Grupo passa a noite na boate e fica sem dormir

Maradona permaneceu na churrascaria até 2h30m. Comeu churrasco e bebeu vinho e prosecco. De lá, o ex-jogador seguiu para a boate Nuth, onde se esbaldou com outros ex-jogadores, como Djalminha e Cláudio Adão. O ex-jogador argentino deixou a boate às 5h50m, passou com os amigos no hotel para pegar as malas e seguiu, sem dormir, para o aeroporto, onde chegou às 6h30m.

Mancuso reclamou da atuação dos funcionários do aeroporto e da polícia brasileira.

- Chegamos no aeroporto e fizemos compras na free shop. Quando íamos embarcar, fecharam a porta na nossa cara. Depois, quatro ou cinco policiais nos cercaram com armas na mão e nos detiveram - disse Mancuso numa entrevista à Rádio Mitre, de Buenos Aires.

Mancuso disse que, depois de esclarecido o problema, ele, Maradona e os outros argentinos foram bem tratados:

- O que houve não vai apagar os momentos maravilhosos que passamos no Brasil.

A TAM divulgou nota esclarecendo que o vôo JJ 8000, do Rio para Buenos Aires, decolou às 7h30m, no horário previsto. Segundo a nota, quando Maradona e seus quatro acompanhantes chegaram ao finger a porta da aeronave já estava fechada bem como as portas da própria plataforma de acesso ao avião. O grupo, segundo a empresa, danificou a primeira porta de acesso do finger do aeroporto e forçou a segunda, quando a PF chegou ao local. A nota diz ainda que em nenhum momento os funcionários da TAM dificultaram o embarque do grupo, que foi impossibilitado apenas pelo atraso dos argentinos.

A REPERCUSSÃO NA IMPRENSA ESTRANGEIRA

Legenda da foto: MADRUGADA FESTIVA: Maradona se diverte na boate Nuth, de onde saiu às 5h50m com os amigos para passar no hotel e apanhar as malas