Título: Imprensa mundial destaca a ira do argentino
Autor: Ana Wambier
Fonte: O Globo, 23/12/2005, Rio, p. 26

Jornais portenhos são mais benevolentes com o craque e ressaltam rigor da polícia brasileira com estrangeiros

A crise de nervosismo e rebeldia de Maradona no Aeroporto Internacional Tom Jobim recebeu a atenção dos principais jornais do mundo em suas versões on line. Os jornais argentinos "Clarín" e "Olé" - este especializado em notícias esportivas - divulgaram versões favoráveis ao ex-craque, enquanto o "La Nación", também argentino, deu mais detalhes do tumulto causado pelo jogador e fez um relato mais imparcial. Quase todos os jornais usaram uma variação do mesmo título: "Maradona foi detido no Brasil".

O "Clarín" e o "Olé" lembraram da recente detenção de Mike Tyson e da prisão temporária do também jogador argentino Leandro Desábato, do Quilmes, acusado de racismo contra o atacante Grafite, do São Paulo. Tanto o "Clarín" como o "Olé" não deram muitos detalhes sobre os insultos proferidos por Maradona. Mencionaram apenas que o ídolo do futebol argentino havia desacatado as autoridades brasileiras, sem relatar, por exemplo, que amigos do ex-jogador haviam quebrado uma porta, o que foi esclarecido na reportagem do "La Nación".

Segundo o diário espanhol "El País", Maradona "participou de uma acalorada discussão com diferentes autoridades e empregados de uma empresa aérea depois de perder o vôo em que regressaria a Buenos Aires".

O site da rede CNN disse que, "irritado porque o vôo não esperou por ele, Maradona discutiu com funcionários do aeroporto e com autoridades. A estrela do futebol argentino tentou forçar seu embarque e uma porta da sala VIP foi quebrada no incidente".

Também deram atenção ao caso o jornal italiano "Gazzetta" e o português "Público".

Confusões fora dos gramados

Diego Armando Maradona é uma figura controversa. Já foi manchete de jornal inúmeras vezes por suas trepidantes performances não nos gramados, mas em discussões, brigas judiciais, confusões com a polícia. Sem falar nos melancólicos episódios que o relacionam com o consumo de drogas.

Já deu tiro com espingarda de ar comprimido em jornalistas que faziam plantão em frente a sua casa em 1994. Quase morreu em Punta del Este em 2000, quando teve uma overdose de cocaína, além de várias outras situações ligadas ao seu consumo. Em 1994, foi punido pela Fifa ao ser anunciado seu doping por uso de efedrina na Copa dos EUA. No mesmo ano, foi preso num apartamento em Buenos Aires por porte de cocaína.

No ano seguinte, a mãe do jogador disse que Maradona tentou se matar numa crise de depressão.

Em 18 de abril de 2004, Maradona foi internado com graves problemas cardíacos. Aquele ano não foi fácil para o craque. Teve uma duríssima disputa com seu ex-empresário Guillermo Cóppola, a quem acusava de tê-lo roubado. Paralelamente, enfrentava uma série de processos movidos por jornalistas, um jogador e mulheres que tentavam obter na Justiça o reconhecimento da paternidade de seus filhos.

Em agosto de 2004 o jornal mexicano "Récord" publicou fotos tiradas no ano anterior que mostravam Maradona nu ao lado de sua namorada de 20 anos supostamente consumindo cocaína na clínica médica cubana "La Pradera", onde ficou internado de 2000 a 2003.

Também em 2004, uma reportagem do canal argentino América mostrava imagens de um Maradona decadente na Clínica del Parque, na Argentina, onde ficou internado depois do episódio em Cuba. Na ocasião, ele implorava para que as autoridades de seu país revogassem a decisão de um juiz, que o impedia de tomar decisões sobre sua saúde e pedia que lhe permitissem viajar a Cuba ou Suíça.

Maradona não é o único jogador argentino metido em confusões. No dia 13 de abril deste ano, o jogador Leandro Desábato, de 26 anos, do Quilmes, foi detido pela polícia acusado de racismo contra Grafite, atacante do São Paulo. Ele passou dois dias na prisão por ter chamado Grafite de "negrito de mierda". Como punição, foi suspenso da Copa Libertadores.

Legenda da foto: IMAGENS DO circuito interno do aeroporto mostram Maradona discutindo