Título: TJLP CAI PARA 9% AO ANO
Autor: Flávia Barbosa/Paula Dias/Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 23/12/2005, Economia, p. 34

No mesmo dia, BNDES reduz 'spread' sobre financiamentos

BRASÍLIA, RIO e SÃO PAULO. Depois de um ano e nove meses congelada em 9,75% ao ano, a Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) - que serve de referência para empréstimos do setor produtivo e para financiamentos concedidos pelo BNDES - foi reduzida ontem para 9% ao ano pelo Conselho Monetário Nacional (CMN). Os empresários também foram beneficiados ontem pelo BNDES, que anunciou a redução do spread (diferença entre o que o banco paga para captar e o que cobra na hora de emprestar) sobre os financiamentos.

A queda da TJLP - que vinha sendo defendida por empresários e integrantes do governo Lula, como os ministros Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento) e Luiz Marinho (Trabalho), além do presidente do BNDES, Guido Mantega - foi considerada insuficiente pela indústria. Para a Confederação Nacional da Indústria (CNI), que via espaço para uma TJLP de 8%, o patamar de 9% ainda é um entrave para o investimento na produção.

- O aumento da produção por meio dos investimentos é o melhor antídoto para a inflação - disse o diretor do Departamento de Economia do Centro das Indústrias do Estado de São Paulo (Ciesp), Boris Tabacof.

O presidente da Associação Brasileira da Infra-estrutura e Indústrias de Base (Abdib), Paulo Godoy, disse que a queda poderia ter sido de, no mínimo, 1,5 ponto percentual. E o diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi), Júlio Sérgio Gomes de Almeida, espera a redução da taxa para cerca de 7,5% ao longo do próximo ano.

O secretário do Tesouro Nacional, Joaquim Levy, e o diretor de Normas do Banco Central, Sérgio Darcy, consideraram a queda significativa. A nova taxa vai vigorar pelos próximos três meses, até voltar a ser avaliada pelo CMN.

- Houve um quadro insofismável de melhora tanto no risco-país quanto na inflação. A redução ajuda a dar um empurrão no investidor, que tem um incentivo adicional para tomar sua decisão - defendeu Levy.

O CMN não informou os valores de inflação e risco utilizados no cálculo. Mas considerando que a meta de inflação é de 4,5% para 2006 e que o risco-país está em torno de 300 pontos, a TJLP poderia estar próxima de 7,5% ao ano.

Entre as alterações da política operacional do BNDES, está a redução do spread em um ponto percentual, em média. O spread, que passa a variar de zero a 3% ao ano, será aplicado de acordo com um novo agrupamento de setores prioritários - bens de capital de inovação, como computadores, terão taxa zero, por exemplo. Além disso, o banco reintroduziu a taxa de risco variável (antes era fixa em 1,5% ao ano), que agora vai de 0,8% a 1,8%. De acordo com o vice-presidente do banco, Demian Fiocca, em média o custo total dos financiamentos (TJLP mais o spread do banco e a taxa de risco) cairá de 14,25% para 12,5% ao ano.

- Essa mudança vai estimular os investimentos. Estamos aliviando e fazendo a nossa parte. Agora temos que esperar a reação do mercado - afirmou Mantega, que ontem, na entrevista coletiva, aproveitou também para comemorar a redução da TJLP em 0,75 ponto percentual.