Título: RÁDIO ENGANA EVO MORALES E CRIA INCIDENTE
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Fonte: O Globo, 23/12/2005, O Mundo, p. 38

Madri convoca Vaticano a explicar 'pegadinha' de humorista de emissora católica que se passou por Zapatero

LA PAZ. Uma "pegadinha" de uma rádio da Espanha com o presidente eleito da Bolívia, Evo Morales, criou um incidente diplomático entre os dois países e levou Madri a chamar o núncio apostólico, o equivalente ao embaixador do Vaticano, para protestar, já que a rádio é da Conferência Episcopal espanhola.

Um humorista da Rádio Cope telefonara no início da semana a Morales. Passando-se pelo presidente do governo espanhol, José Luis Rodríguez Zapatero, ele parabenizou o presidente eleito, prometeu apoio e o convidou a visitar a Espanha. Quando Morales anunciou em entrevistas que havia conversado com Zapatero, Madri desmentiu a informação. Na quarta-feira a Cope levou ao ar a "pegadinha". O fato levou o governo boliviano a protestar junto a Madri.

Episódio aumenta tensão entre Espanha e Vaticano

Ontem o ministro do Exterior da Espanha, Miguel Angel Moratinos, convocou o núncio apostólico do Vaticano em Madri, Manuel Monteiro Castro, para apresentar o protesto de La Paz e a desaprovação do governo espanhol. Moratinos pediu ao representante do Vaticano que evitasse atos do gênero "pois poderiam prejudicar os interesses políticos e econômicos da Espanha". A empresa de petróleo espanhola Repsol YPF tem negócios na Bolívia e Morales pretende renegociar contratos.

O episódio também aumentou a tensão entre Madri e o Vaticano, que critica duramente políticas do governo socialista espanhol, como a legalização do casamento entre homossexuais.

O próprio Zapatero, por fim, ligou para Morales para desfazer o mal-entendido.

- O verdadeiro presidente me telefonou para me felicitar. Ele me convidou a visitar a Espanha - contou Morales.

Embora a apuração ainda não tenha acabado, a vitória de Morales foi confirmada ontem. Segundo a Corte Nacional Eleitoral, ele teve 54% dos votos válidos, contra 28,5% de Jorge "Tuto" Quiroga. Mesmo que perdesse nas mesas restantes, Morales ainda teria 50,3%, maioria necessária para vencer sem que a disputa vá para o Congresso.

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