Título: OS COADJUVANTES
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 24/12/2005, O País, p. 4

Tão inebriados andaram petistas e tucanos em sua guerra particular, acreditando, um ano antes, que não há espaço para mais ninguém na disputa presidencial de 2006, que se esqueceram de olhar em volta. Agora, estão tomando sustos. O crescimento de Quércia em São Paulo foi um deles. Tanto PT quanto PSDB vão ter que correr atrás do prejuízo, que hoje atende pelo nome de PMDB.

PT e PSDB são, de fato, as principais forças políticas na luta pelo poder. Têm base social, projeto de poder, nomes para a Presidência. A lógica indica que os demais partidos se agrupem como satélites em torno dessas duas forças.

Em política, porém, nem sempre a lógica prevalece. Estamos cansados de ver o eleitor contrariar as previsões dos protagonistas, sobretudo quando esses fazem muitas bobagens. Como, por exemplo, levar a radicalização da disputa ao limite da destruição recíproca. Nesses momentos é que aparecem as terceiras, quartas e quintas vias - servindo às vezes de instrumento para aventuras e retrocessos.

Ainda não apareceram. Mas entre aliados de Lula e no tucanato começa a brotar certa inquietação. Menos pela possibilidade de eleição de um candidato do PMDB ou de outro de partido à Presidência, mais remota, do que pela constatação de que atores hoje considerados secundários no cenário ainda podem produzir grandes estragos. Há razões:

O PMDB está correndo frouxo. Todo mundo sabe que o PMDB não vai inteiro para candidatura alguma, que o partido gosta é de negociar apoios no segundo turno e no governo, que ninguém controla sua convenção, etc... Mas as circunstâncias podem estar mudando e nem PT e nem PSDB percebendo. Tudo indica que o PMDB não ficará sem candidato, como desejariam os que pretendem canibalizar os apoios de suas seções regionais. Se não é Garotinho, que tem desempenho nas pesquisas mas não o apoio dos cacique, é Rigotto ou Jobim. Por enquanto, essas candidaturas não dão nem para a saída. Mas numa campanha sangrenta em que PT e PSDB se destroem, tem que sobrar para alguém.

Lula entrou tarde na briga para derrubar a verticalização. Aliados dizem hoje que Lula acha bom que o PMDB tenha candidato, pois tira mais votos dos tucanos do que dele. Um argumento na base das uvas que estão verdes. Na verdade, Lula deixou passar a hora de derrubar a verticalização das alianças, como pediam o PMDB, o PSB e outros aliados, e acabou dificultando a montagem de uma coligação mais ampla. O PMDB já caiu fora.

O PSDB também não terá o PMDB. Tendo o PFL como parceiro preferencial, os tucanos não investiram no PMDB até ver Quércia subir nas pesquisas para governador do estado. Agora, Serra anda procurando Michel Temer e a ala oposicionista do partido. Mas tem pela frente um problema dificílimo de resolver. O PMDB, cheio de idéias, mandou dizer que apóia o PSDB a nível federal se os tucanos fecharem com Quércia em Sampa. Sonho seu.

Qualquer negociação passa pela composição em São Paulo. A pesquisa Datafolha em que Quércia aparece liderando a corrida paulista pode retratar apenas um momento de desencanto com o PT e o PSDB, sem nomes lançados, e não exatamente uma tendência. Mas é um sinal importante aos navegantes que dão mais atenção a disputas internas do que ao eleitor. Mostra, sobretudo, que não se decidirá o jogo federal sem conversar antes em São Paulo.

O PFL também tem lá suas condições. Mais um complicador para o PSDB: o PFL também quer espaço em São Paulo. Ou os três anos de prefeitura que restariam a Serra, ou os oito meses de Alckmin no governo, com direito a apoio do PSDB para eleger um pefelista em 2006. Sinuca de bico. Mas já pensou se o PFL debanda?

O PSB está se fazendo de difícil. Do jeito que as coisas andam, sobram apenas PCdoB e PSB para a coligação de Lula. É por aí que os socialistas estão fazendo charminho, ameaçando não se coligar formalmente se a verticalização não for derrubada. Cheira a papo furado para garantir a vaga de vice de Lula. Para quem? Ciro Gomes, é claro.

O jogo de PTB, PL, PP: quem dá mais? Mantida a verticalização, como parece, esse pessoal não apresenta candidato à Presidência e, na maior promiscuidade, vai se coligar com Deus e o mundo nos estados. O resultado? Fazem boas bancadas e voltam a ser essenciais para a governabilidade de quem chegar ao Planalto em 2007. Haja mensalão e semanada...

FELIZ NATAL A TODOS!!!!