Título: PRESIDENTE CRITICA 'RANCOR E INVEJA' DA OPOSIÇÃO
Autor: Flávio Freire/Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 24/12/2005, O País, p. 8

Após encontro cordial com Serra, Lula volta a atacar adversários e condena 'jogo rasteiro'

SÃO PAULO. Menos de duas horas depois de trocar gentilezas com o prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), que segundo as últimas pesquisas eleitorais o derrotaria nas eleições de 2006, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva criticou ontem com veemência o "rancor e a inveja" de setores da oposição em relação ao seu governo. Lula disse que os governantes não devem responder a jogos rasteiros dos adversários, ainda mais às vésperas de anos eleitorais que, segundo ele, se transformam numa "guerra santa". Num discurso inflamado de 40 minutos, Lula partiu para o ataque:

- Não há nada que cause mais inveja a um ex-marido do que ver a ex-mulher mais feliz do que quando estava casada com ele. Não existe nada que cause mais inveja do que um ex-governante ver que seu sucessor está fazendo mais do que ele. Não existe nada que possa causar mais rancor, mais mágoa, do que o sucesso de um adversário político - disse Lula em Osasco, na Região Metropolitana de São Paulo, onde entregou o cartão de número 8.700.000 do Bolsa Família.

Antes do evento em Osasco, Lula participou com Serra da inauguração de uma ala e de quatro pontes de acesso a aviões, no Aeroporto de Congonhas. Em clima cordial, os dois prometeram trabalhar em parceria pelo bem de São Paulo, apesar da disputa política entre eles. Serra abraçou Lula e a primeira-dama, Marisa Letícia.

Serra cobra liberação de área da Aeronáutica

O prefeito aproveitou a cerimônia para cobrar de Lula a liberação de parte da área do Campo de Marte, usada pelo Ministério da Aeronáutica, para a criação de um parque municipal. Serra lembrou que o Campo de Marte foi encampado pelo governo federal na Revolução Constitucionalista de 1932:

- Já estamos em entendimento com o Ministério da Defesa sobre a devolução do Campo de Marte, mas num determinado momento nosso pedido chegará em suas mãos.

Depois de afirmar que o que for feito por São Paulo ainda será pouco, Lula ironizou:

-Serra, fico esperando que a discussão chegue até a minha mesa, porque, naquela guerra (Revolução de 1932), São Paulo perdeu (a área) para o Brasil. Então, será a discussão sobre uma data histórica e um momento histórico que vivemos.

Serra afirmou que a parceria entre governo federal e São Paulo deve continuar, independentemente da disputa partidária.

- Vamos continuar trabalhando juntos, independentemente de questões de natureza partidária - disse o prefeito, com a anuência de Lula.

Em seu discurso, Lula lembrou que as obras no Aeroporto de Congonhas só foram possíveis graças às parcerias do governo federal, com a prefeitura e com os empresários que exploram o local. Segundo o presidente, a disputa política com o prefeito não afetará a cidade.

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Legenda da foto: LULA ABRAÇA Serra: apesar das gentilezas, o presidente criticou a oposição e o prefeito fez cobranças