Título: DILMA: DECISÃO SOBRE OBRAS FOI POLÍTICA
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 24/12/2005, O País, p. 10

Ministra disse que estados gastaram os recursos recebidos em outras áreas

BRASÍLIA. A chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, disse ontem que o governo Lula tomou a decisão política de retomar o controle temporário das estradas repassadas aos estados em 2002 para realizar as obras necessárias que não foram feitas pelos governos estaduais. Mas Dilma ressaltou que a questão será negociada caso a caso com os governadores a partir de janeiro. A negociação deverá ser feita diretamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Numa resposta às críticas do governador de Minas Gerais, Aécio Neves (PSDB), Dilma disse que 15 estados receberam R$1,88 bilhão da União para realizar as obras em 14,5 mil km de estradas estadualizadas e que eles gastaram os recursos em outras áreas. Aécio afirmou que o presidente Lula estava mal informado sobre os motivos que levaram os governadores a não destinar os recursos repassados para as estradas.

A ministra disse que o governo não aceita assumir essa responsabilidade, acrescentando que o importante agora é resolver o problema que prejudica a população e não discutir de quem é a culpa.

Assessores do presidente disseram que Lula resolveu reagir depois de passar "três meses ouvindo desaforos" sobre as estradas. Lula ficou irritado com o fato de alguns governadores e parlamentares da oposição terem colocado até placas nas estradas culpando o governo federal pelos buracos.

Dilma explicou que a idéia é realizar as obras e depois, no futuro, repassar as estradas novamente para os estados. Segundo ela, a União usará recursos do Orçamento da União para as obras, mas deve haver contrapartida dos estados. Anteontem, Lula dissera que a União custearia 70% do valor das obras e os estados, 30%, mas a ministra disse que isso será negociado caso a caso.

- A recuperação desses trechos não é o reconhecimento de responsabilidade por essas estradas, porque, quando as transferimos, transferimos os recursos correspondentes para que elas fosse recuperadas. Mas não assumimos a responsabilidade de não ter feito. Não assumimos que temos falha de nossa parte - disse.

" Vivíamos um apagão de planejamento no país "

A ministra divulgou uma tabela que mostra que 14 estados ganharam recursos em dezembro de 2002: Amazonas, Bahia, Espírito Santo, Goiás, Maranhão, Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraíba, Pernambuco, Piauí, Paraná, Rondônia, Roraima, Rio Grande do Sul e Tocantins. O estado de Minas Gerais foi o que mais ganhou: R$780 milhões para cuidar de 6 mil km de estradas. Em segundo, o Rio Grande do Sul, com R$258,4 milhões, para 1,9 mil km de rodovias. Na época, o Rio de Janeiro não fez acordo com a União.

- Recebemos 37 mil quilômetros de estradas em estágios os mais deploráveis possíveis. Desde 2003, estamos num processo de recuperação da capacidade de investimento. Vivíamos um apagão de planejamento no país. Em quase todos os estados a situação das estradas não está boa - disse Dilma.

Legenda da foto: DILMA ROUSSEFF: "Não assumimos que temos falha de nossa parte"