Título: ESTADO DE 40% DAS RODOVIAS É RUIM OU PÉSSIMO
Autor: Evandro Éboli
Fonte: O Globo, 24/12/2005, O País, p. 10

Pesquisa da CNT revela que apenas 28% dos 81.944 quilômetros da malha viária federal são bons ou ótimos

BRASÍLIA e BELO HORIZONTE. A disposição do governo de recuperar as estradas federais que haviam sido entregues a governos estaduais no fim de 2002, anunciada anteontem pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vai esbarrar no estado dramático em que se encontram as rodovias. Pesquisa realizada pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) concluída há um mês revela que 40,2% da malha rodoviária federal, que equivale a cerca de 32 mil quilômetros, estão em situação ruim ou péssima. Em outros 26.053 quilômetros (31,8), o estado é regular. Apenas 28% são consideradas boas ou ótimas.

Dos 81.944 quilômetros de rodovias federais, só 17% obtiveram a classificação bom na pesquisa da CNT. Outros 11% foram considerados ótimos. Nas estradas federais, o estado geral que prevalece é o regular. Foram classificados como ruins 18.057 quilômetros. E 14.909 quilômetros aparecem em péssimo estado de conservação. Anteontem, Lula anunciou em Montes Claros (MG) que o governo federal irá retomar os 14 mil quilômetros de rodovias federais entregues a 15 estados.

Os dez melhores corredores rodoviários ficam em de São Paulo. Os dez piores estão nas regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste.

No Rio, de 21 trechos avaliados, dez regulares

A pesquisa da CNT também avaliou 21 trechos de rodovias no Rio. O estado geral de dez deles, considerando conservação de pavimento, sinalização e geometria, é regular; cinco em bom estado; dois em ótimo; dois em péssimo; e dois em estado ruim. O estado geral da BR-101, centro de uma disputa entre os governos federal e estadual, é deficiente. Foram avaliados 602 quilômetros dessa rodovia. Os 120 quilômetros da BR-040 foram considerados ótimos. Os 269 quilômetros da BR-116 aparecem como bons.

Em Minas, estado com a maior malha viária do país (31 mil quilômetros), a manutenção tem sido um problema. Desde a edição da Medida Provisória 82, quando foi negociada a transferência de seis mil quilômetros, boa parte das estradas está em situação precária. Alguns trechos estão intransitáveis, como é o caso da BR-352 até a BR-262, próximo a Patos de Minas. São 80 quilômetros de terra, buracos e problemas. Até pouco tempo os motoristas trafegavam pelo acostamento, mas agora, nem isso. Os que se arriscam a atravessar o trecho gastam pelo menos três horas.

O presidente da CNT, Clésio Andrade, elogiou a decisão do presidente de retomar as rodovias. Clésio afirmou que os recursos repassados para os estados eram insuficientes para a recuperação das estradas. E afirmou que a medida provisória que transferiu as rodovias para os estados foi "mal negociada".

- Eu diria que os estados negociaram bem, já que usaram as verbas para pagar despesas emergenciais e não em estradas. O dinheiro repassado era insuficiente para recuperar as rodovias - disse Clésio.

Clésio, que é vice-governador de Minas e acompanhou Lula em Montes Claros, disse que ouviu o discurso de presidente, mas que não poderia discordar publicamente.

- Não concordo com ele. É obrigação do governo federal recuperar as estradas. É correto, justo e necessário a União assumir a responsabilidade.

Clésio disse que o governo não está investindo o dinheiro arrecadado com a Cide (Contribuição de Intervenção do Domínio Econômico) na recuperação das estradas. Ele afirmou que a maior parte está sendo destinada para garantir o superávit primário. Clésio calcula que sejam necessários R$20 bilhões para se arrumar as estradas federais. Desse total, R$13 bilhões seriam para reconstruir e restaurar as estradas e os outros R$7 bilhões pagariam obras como a duplicação dos principais eixos rodoviários da Região Sudeste. Ele calcula ainda mais R$1 bilhão anual para manutenção.

O presidente da CNT comentou o episódio ocorrido anteontem, no Estado do Rio, num trecho entre Niterói e Campos. A Polícia Rodoviária Federal (PRF) suspendeu a operação tapa-buraco na BR-101, obra iniciada pelo Departamento de Estradas e Rodagem (DER).

- A cena foi lamentável. A que situação grave chegamos. O governo federal deveria aplaudir a iniciativa do governo do Rio. Em vez de parceria, o que vemos é isso, cada um para um lado - disse Clésio Andrade.

O Ministério dos Transportes não quis comentar o episódio no Rio.