Título: PARA LULA, 'É PRECISO SOLTAR O BREQUE E ACELERAR' A ECONOMIA EM 2006
Autor: Cristiane Jungblut/Soraya Aggege
Fonte: O Globo, 24/12/2005, Economia, p. 18

Queda no PIB no terceiro trimestre foi um sinal de alerta, diz presidente

SÃO PAULO e BRASÍLIA. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou ontem, durante entrevista em São Paulo, que a queda do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto das riquezas produzidas pelo país) no terceiro trimestre foi o grande desapontamento de 2005, porque o governo "pisou muito no breque". Segundo Lula, agora é preciso tirar o freio da economia e acelerar. Na avaliação de Lula, com a mudança, 2006 será um ano "extremamente vigoroso".

- Teve um desapontamento com a queda do PIB, que certamente foi importante acontecer, porque foi um sinal de alerta. Ou seja: estávamos pisando muito no breque e é preciso soltar o breque e acelerar, para (a economia) correr um pouco mais livremente - afirmou o presidente, ao fazer um breve balanço de seu governo em 2005.

O presidente avalia que a melhor notícia econômica de seu governo passou desapercebida pela população por causa da crise política. Segundo Lula, o país conquistou independência junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI).

- O gesto mais importante foi a decisão que tomamos de dizer ao FMI: "Olha, nós não queremos mais o dinheiro que estava como salvaguarda. O Brasil já adquiriu sua independência financeira" - disse.

Outro ponto positivo destacado por Lula foi a reforma agrária, com o cumprimento da meta de assentamento de 115 mil famílias em 2005.

Lula diz que consumismo do Natal entristece os pobres

O presidente disse ainda que o governo manterá a rigidez no controle da inflação.

- Não queremos que ela volte. Acho que estaremos num ano muito bom. Os sinais estão todos colocados e a economia vai crescer muito- disse.

O presidente participou ontem, durante três horas, de um evento com moradores de rua de São Paulo, sob um viaduto no bairro de Pinheiros. Em seu discurso, disse que no Natal o consumismo entristece ainda mais os pobres. No final do evento, decidiu desejar um feliz Natal aos jornalistas presentes e gravar o mesmo desejo para todos os brasileiros.

- Eu não poderia falar em 2006 sem antes desejar feliz Natal a vocês e ao povo brasileiro - disse.

As declarações otimistas de Lula sobre a economia foram repetidas na Esplanada dos Ministérios. Em discurso orquestrado para mostrar a unidade da equipe do governo, os ministros se esforçaram para apresentar perspectivas favoráveis para 2006. Até a ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, trocou as críticas à política econômica por elogios à decisão do Conselho Monetário Nacional (CMN) de redução da Taxa de Juros de Longo Prazo (TJLP) para 9%. Dilma disse que isso é um sinal do barateamento do custo do capital no país, o que vai impulsionar a expansão do PIB no ano que vem.

Dilma garantiu ainda, contrariando algumas previsões do setor elétrico, que não faltará energia no país até 2010, mesmo se o Brasil alcançar taxas de crescimento entre 4,5% e 5%. A ministra carregava nas mãos uma explanação do ministério da Fazenda chamada "Quatro Polêmicas sobre a Política Econômica".

A ministra disse que interessa ao país crescer e que, para isso, é importante haver investimento em infra-estrutura.

Para Dilma, Lula acabou com o "apagão do planejamento"

Para ela, o governo Lula está acabando com um "apagão de planejamento" que havia no governo anterior.

- É hora de consolidação das potencialidades de um crescimento sustentado. Nunca tivemos uma situação tão favorável - disse, para em seguida completar. - Recompusemos o clima macroeconômico do país. Reconstruímos a capacidade de planejamento. Vivíamos um apagão de planejamento.

Perguntada se estava cumprindo a determinação do presidente de ressaltar os feitos do governo, Dilma disse que "ajudou a fazer" esse discurso. Ela lembrou ainda que carregava o estudo que Palocci apresentou na reunião ministerial de segunda-feira, que trata de políticas monetária e cambial, crescimento e emprego e renda.