Título: PERTO DA META
Autor:
Fonte: O Globo, 27/12/2005, Opinião, p. 6

Adívida externa brasileira encerrará o ano de 2006 em um patamar semelhante ou até inferior (se considerado o efeito da inflação em dólar) ao que se encontrava no início do Plano Real. Isso significa que na prática o custo, nas contas externas do país, do combate à superinflação e da posterior estabilização da moeda brasileira foi neutralizado.

As reservas líquidas em moeda estrangeira serão suficientes em breve para cobrir quase um ano de importações (antes eram medidas em alguns meses) e poderiam liquidar de uma só tacada toda a dívida externa contraída pelo setor privado.

E mesmo no caso do setor público, há uma redução paulatina do endividamento, reforçada pela decisão correta do governo de antecipar o pagamento dos empréstimos tomados no Fundo Monetário Internacional. As reservas acumuladas com o resultado desses empréstimos há muito tempo eram desconsideradas pelos analistas financeiros nos seus cálculos. Portanto não fazia mais sentido mantê-las. Pagar os empréstimos com essas reservas poupará ao país o equivalente a US$900 milhões em juros, segundo o ministro da Fazenda, Antonio Palocci.

Essa mudança de 180 graus nas contas externas brasileiras se deve basicamente ao fenomenal desempenho das exportações, proporcionando um superávit comercial que dá ao país tranqüilidade para ir melhorando o resultado dos demais itens.

Em 2006, por exemplo, estudo elaborado pelo Tesouro Nacional mostra que o Brasil precisará captar no exterior apenas metade dos recursos necessários para a rolagem integral da dívida que estará vencendo e do pagamento dos juros. Até 2000, era preciso captar quase 100% do valor dos vencimentos. E naquela época eram necessários mais de US$50 bilhões para se fechar as contas. No ano que vem, serão no máximo US$20 bilhões.

Tudo leva a crer, então, que poderemos ter eleições gerais em 2006 sem pressões sobre o câmbio. Isso mostra a importância de o país continuar com uma política que fortaleça as exportações e o comércio exterior como um todo. O Brasil agora só depende de si mesmo para ser classificado como economia em grau de investimento.