Título: ESTABILIDADE À MESA
Autor: Fabiana Ribeiro
Fonte: O Globo, 27/12/2005, Economia, p. 19

Levantamento do Instituto Fecomércio-RJ mostra que cesta de compras subiu 2,83%

Oconsumidor sentiu no bolso os efeitos da baixa cotação do dólar ¿ que no ano acumula queda em torno de 10% ¿ e do clima favorável no segundo semestre. Até a terceira semana deste mês, a cesta de compras acumulou alta de 2,83% no ano ¿ bem abaixo da variação de 5,88% registrada pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo-15 (IPCA-15). Com isso, o custo de 39 artigos da cesta passou de R$297,17 em dezembro de 2004 para R$305,57 neste mês, conforme levantamento feito pelo Instituto Fecomércio-RJ.

¿ O que se nota é uma estabilidade nos preços de um ano para o outro. Até porque o crescimento médio do custo da cesta de compras foi, em 2004, de 2,1%, e em 2005, de 2% ¿ explicou João Gomes, economista do instituto.

Na lista dos alimentos, os vilões em 2005 foram os produtos in natura ¿ legumes, verduras e frutas ¿ que registraram um aumento médio de 28,39% no ano. Entre as maiores altas estão tomate (50,10%), cenoura (44,43%), laranja pera (38,69%) e cebola (26,89%). Também subiram de preço o feijão (13,05%), o café (12,39%) e o pão francês (6,10%) ¿ importantes itens da cesta de compras do brasileiro.

¿ Há muito volatilidade nos produtos in natura, devido à influência dos aspectos climáticos na produção. No fim do ano, alguns itens, por causa de chuvas, começaram a fazer alguma pressão, mas já estão começando a perder a força ¿ acrescentou Gomes.

José de Souza, presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio, lembra que os produtos que registraram queda no preço são aqueles que mais pesam no orçamento dos brasileiros. No ano, segundo a Fecomércio-RJ, tiveram reduções óleo de soja (17,44%), arroz (16,93%), frango (7,62%), carne de primeira (3,22%) e macarrão (2,24%).

¿ A cesta de compras de 2005 é a melhor dos últimos dez anos. Para se ter idéia, há artigos com preços de 2004 que, se aplicados a inflação, estariam no mesmo patamar.

Souza acrescenta que a inflação foi puxada pelos preços administrados e não pelos alimentos, que deram trégua em 2005 ao governo:

¿ E se os índices inflação tirassem da apuração os legumes e as verduras, a exemplo de muitos países, a inflação seria ainda menor.

O recuo de preços, no entanto, não foi sentido na casa de Laís Mello e de seu neto Márcio. Em vez disso, a família sentiu no bolso o peso do aumentos de, por exemplo, leite (1,48%) e legumes e verduras (30,08%). Por isso, na hora de fazer as compras, a aposentada busca ofertas e compara preços entre os supermercados. E não deixa de levar sua lista para as compras, evitando, assim, cair na tentação de consumir supérfluos.

¿ Itens como carne e frango tiveram aumentos ao longo do ano. O jeito é continuar a pesquisar para não ter prejuízos.

Laís acrescenta que os produtos de limpeza e higiene pessoal também sofreram aumentos no preços. E cita como exemplo o sabão em pó, que, de acordo com o Instituto Fecomércio-RJ, teve alta de 3,16%.

Além do sabão em pó, os gastos com desodorante (8,57%) e creme dental (0,05%) também subiram. Em compensação, as despesas com sabonete (9,44%), sabão em barra (7,88%) e papel higiênico (6,93%) caíram no ano.

Para o ano que vem, analistas divergem

Na opinião de João Carlos de Oliveira, presidente da Associação Brasileira de Supermercados (Abras), os focos de aftosa do país também influenciaram os preços dos produtos. E ainda deixaram o consumidor confuso. Mas concorrência e controle do consumidor também pesam nos preços.

¿ Os consumidores estão mais conscientes e isso também é um termômetro dos preços do mercado ¿ afirmou Oliveira.

Para 2006, o presidente da Bolsa de Gêneros Alimentícios do Rio está pessimista. O ano de eleição, disse ele, pode influenciar nos preços e inibir o consumo.

¿ O problema de 2006 não será o de safra. Estou tranquilo em relação à produção brasileira. O problema do ano que vem é a politicagem ¿ disse Souza.

Já o economista da Fecomércio João Gomes acredita que numa estabilidade dos preços e até mesmo numa queda no primeiro trimestre do ano que vem. Em sua avaliação, os preços de legumes e verduras começam a cair e, por isso, o preço da cesta de compras deve ficar um pouco abaixo de R$300.

¿ Além disso, o câmbio não deve ter avanços expressivos, o que ajuda a controlar os preços de alguns alimentos.