Título: BC COMPRA E O DÓLAR SOBE 0,82%
Autor: Vagner Ricardo
Fonte: O Globo, 27/12/2005, Economia, p. 19

Em dia de pouco negócio, moeda vai a R$2,337; Bolsa cai 0,1%

Em dia de liquidez reduzida e de poucos negócios, coube ao Banco Central (BC) dar uma mãozinha para fazer o dólar comercial subir. Ontem, a moeda teve alta de 0,82%, fechando a R$2,337 para venda. Após os leilões do BC ¿ um de swap cambial e outro de compra no mercado à vista à tarde ¿ o dólar firmou a tendência de alta ensaiada desde o começo do dia. Com isso, a moeda superou até as projeções do mercado de fechamento no ano: de R$2,28, segundo a pesquisa ¿Focus¿ do BC, divulgada ontem.

¿ Sem a atuação do BC, a tendência do dólar é arrastar-se para o piso de R$2, porque não há compradores ¿ afirmou João Medeiros, diretor de Câmbio da Pioneer Corretora.

Ontem, o BC negociou 90,5% dos contratos de swap reverso (operação que funciona como compra no mercado futuro), totalizando US$364,3 milhões. A autoridade monetária também atuou no mercado à vista, comprando dólar a R$2,332.

Foi a vigésima segunda operação de swap desde novembro e, segundo analistas, o BC a esta altura já poderia ter utilizado os US$10 bilhões reservados para este fim. Confirmando-se a perspectiva de menor intervenção, a previsão é que a cotação desabe, ressaltou o analista Mário Paiva, da corretora Liquidez.

O giro financeiro no mercado de câmbio foi da ordem de US$1,1 bilhão ontem, US$400 milhões a menos que a média diária. O feriado nos Estados Unidos e na Europa, disseram analistas, afetou a movimentação no mercado doméstico.

Tom de marasmo predomina com ausência de estrangeiros

Na última semana de negociação, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) fechou em queda de 0,1% ontem, afetada pela ausência dos investidores estrangeiros e de dados econômicos relevantes. Tradicionalmente a última semana do ano é fraca em giro financeiro, mas ontem ficou pior com a paralisação nos mercados americano e europeu. Sem referência externa, os investidores preferiram não fazer muitos negócios, e a movimentação da Bovespa foi de apenas R$448,6 milhões, a menor no ano.

¿ O mercado ficou parado e a impressão que dá é que uma reação mais efetiva ficará para o próximo ano, já que a Bolsa subiu muito e os investidores agora estão embolsando os ganhos que tiveram ¿ explicou o analista Alexandre Carneiro, da Adinvest Consultoria.

Segundo ele, também a recente alta do dólar puxada pelos leilões do BC estaria adiando a volta às compras dos investidores estrangeiros. Isso porque eles estariam à espera de alguma estabilidade do dólar para baratear o custo de acesso ao mercado de ações.

Segundo operadores, na falta de novas notícias, o mercado também continua a reagir à ata do Copom divulgada na semana passada, adotando uma postura mais cautelosa. Isso porque havia a expectativa de que a ata desse uma indicação de queda mais acelerada da Taxa Selic, o que não se confirmou.

Com isso, os investidores voltaram a fazer as contas e não estão tão certos de uma migração mais firme de recursos da renda fixa para o mercado de ações . Depois da ata, o fato mais relevante para os investidores de Bolsa esta semana será a relatório do BC da inflação do trimestre, a ser divulgado amanhã. Em função do feriado nos EUA, não houve negociação com os títulos da dívida externa brasileira.