Título: Erro do bem
Autor: Flávia Oliveira
Fonte: O Globo, 27/12/2005, Economia, p. 20

Nem a queda do dólar nem o inesperado aparecimento da febre aftosa no último trimestre tiraram o vigor das exportações brasileiras neste 2005. O ano está chegando ao fim sem que nenhuma consultoria, banco ou instituto de pesquisa tenha previsto o saldo comercial (possivelmente) superior a US$45 bilhões. Em janeiro, a estimativa mediana do mercado não passava de US$26 bilhões no Boletim Focus, do Banco Central. Para 2006, o otimismo continua.

De carona na expansão do comércio mundial, que continua, o economista Marco Franklin, da Plenus Gestão de Recursos, prevê superávit de US$44 bilhões no ano que vem, enquanto o mercado espera US$37 bilhões. Para chegar ao número, Franklin partiu de um modelo econométrico que estimou o saldo em US$48 bilhões. Somou a este valor as previsões de crescimento de algumas commodities, como produtos agrícolas (mais US$2,7 bilhões), siderurgia (US$600 milhões), minério de ferro (US$1,2 bilhão) e petróleo (US$1,5 bi). No contrapeso, automóveis e calçados, que devem ter desempenho inferior ao deste ano, e importações, que devem aumentar 14%. Com isso, a projeção chega aos US$44 bilhões de saldo.

¿ O saldo anualizado dos últimos três meses é maior que o acumulado em 12 meses. Isso indica que a tendência é de alta. Além disso, no front externo são esperadas boas notícias, o que ajuda as exportações ¿ diz.

Em 2005, segundo os cálculos da Funcex, o crescimento das exportações se deu tanto pelo aumento das quantidades vendidas quanto dos preços. Apesar do câmbio favorável, as importações não tiveram tanto vigor, provavelmente em razão da desaceleração no mercado interno. Até a quarta semana de dezembro, as exportações cresceram 31%, enquanto as importações avançaram 26,8%.

Desde 2003, as exportações brasileiras crescem mais que o comércio externo. Este ano, a tendência se repetirá, com o mundo crescendo 14% e as vendas brasileiras, 23%. Assim, a participação do país nas transações internacionais atingirá 1,2%, contra 1% em 2004. Em 2006, a Funcex espera que as exportações brasileiras cresçam tanto quanto o comércio mundial, em quantidade e preço. No cenário padrão da entidade, a balança fecharia o próximo ano em US$42,2 bilhões. Na melhor das hipóteses, bateria US$45,5 bilhões, com chance de superar o recorde de 2005.

Fábio Silveira, da MS Consult, não está tão otimista. Ele prevê superávit de US$36 bilhões, com as exportações atingindo US$115-116 bilhões e as importações batendo US$80 bilhões, em razão da recuperação da atividade interna. Em 2006, diz o economista, as vendas de commodities metálicas e agrícolas tendem a cair. Já as exportações de bens de capital, de consumo devem aumentar, enquanto as de petróleo vão repetir 2005.

Silveira também chama a atenção para a diminuição do valor do frete, possível sinal de queda da demanda. Entre dezembro de 2004 e o mesmo mês deste ano, o preço por tonelada transportada caiu de US$4.600 para US$2.700. A salvação da lavoura, completa, podem ser o açúcar e o suco de laranja. Este último seria beneficiado pela redução de um terço da produção da Flórida, depois de duas quebras de safra e dos furacões que trouxeram destruição e pragas aos campos dos EUA.