Título: Deputados que fugiram da cassação disputam verbas
Autor:
Fonte: O Globo, 28/12/2005, O País, p. 11

Na votação do Orçamento de 2006, Paulo Rocha e José Borba voltam ao plenário e tentam incluir projetos

BRASÍLIA. Na briga pelos milhões do Orçamento da União que começou a ser votado ontem com plenário cheio na Comissão Mista do Orçamento entraram até mesmo ex-deputados que renunciaram ao mandato para escapar da cassação por terem se beneficiado de recursos do valerioduto. Os ex-deputados Paulo Rocha (PT-PA) e José Borba (PMDB-PR) foram para o plenário da comissão e tentaram pressionar pela inclusão de projetos de suas bases nas emendas de bancada de seus estados. Borba se vangloriava de já ter empenhado 70% das emendas por ele apresentadas ao Orçamento de 2005.

Muito à vontade ao lado do deputado Ricardo Barros (PP-PR), Borba alegou que os parlamentares sentem muito sua falta e pedem que ele vá ajudar com sua experiência de ex-coordenador da bancada do Paraná.

- Eu me sinto muito confortável aqui nesse ambiente. Não sou um patinho feio. Sou um patinho igual a todos os outros aqui - disse Borba.

O ex-líder do PT Paulo Rocha ficou muito irritado ao ser descoberto. Incomodado, saiu do plenário e se sentou nas cadeiras ao fundo. Ali, recebeu a solidariedade do deputado Professor Luizinho (PT-SP), também na lista dos cassáveis do Conselho de Ética. Rocha tentou negar que articulava inclusão de emendas para obras das eclusas de Tucuruí e de pavimentação da BR-163 .

- Estou aqui como qualquer cidadão e não estou influenciando nada. Estava sentado com um assessor, que me perguntava o que sinto na perna. Eu dizia a ele que estou sofrendo de um problema no nervo ciático - tentou desconversar Rocha, que, mesmo depois de ter renunciado, coordenou recentemente uma reunião da bancada do Pará para discutir a destinação de verbas do Orçamento.

Alguns parlamentares estranharam a presença de Rocha e Borba no plenário.

- Ainda não tiraram a roupa de deputado. É lamentável, mas fazer o quê? São seres humanos... - comentou o senador Heráclito Fortes (PFL-PI).

A leitura do relatório foi feita, mas a votação foi adiada para hoje, a pedido do PFL, que ameaçou derrubar a sessão. Uma das queixas do PFL é a não liberação de R$1,9 milhão, já comprometido no Orçamento deste ano, para a Universidade do Semi-Árido de Pernambuco, uma emenda do deputado Osvaldo Coelho (PFL-PE).

O líder do governo na comissão, deputado João Leão (PTB-BA), tentou solucionar o problema, mas alegou aos pefelistas que não encontrou o ministro de Relações Institucionais, Jaques Wagner. Houve também uma revolta geral com o empenho de R$168 milhões para obras no Açude de Pacajus, no Ceará, terra do ministro Ciro Gomes, responsável pela área. E ainda com um outro empenho, de R$70 milhões, para ampliação do sistema de abastecimento de água do Rio Pratagy, em Maceió, terra do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB).