Título: PREJUÍZO NOS CORREIOS FOI DE R$129 MILHÕES
Autor: Alan Gripp/Gerson Camarotti
Fonte: O Globo, 30/12/2005, O País, p. 3

Auditoria da CGU encontra irregularidades graves nos contratos da Rede Postal Noturna

BRASÍLIA. O último lote de auditorias realizadas pela Controladoria-Geral da União (CGU) nos Correios identificou um prejuízo de pelo menos R$129 milhões na estatal. Foram produzidos dez relatórios, que abrangem 35 contratos com uma movimentação de R$1,63 bilhão em serviços e obras. Durante o ano, a CGU analisou 257 contratos, divididos em cinco lotes.

Nesta última etapa, as irregularidades mais graves foram identificadas nos contratos da Rede Postal Noturna. Segundo a CGU, o prejuízo só com esse tipo de serviço chegou a R$86 milhões. Em outro relatório, as irregularidades encontradas para a aquisição de equipamentos de projetos como o Banco Postal, o Quiosque Eletrônico e o Correio Híbrido causaram um prejuízo de R$35 milhões.

Ministro apresenta resultados hoje ao presidente Lula

O ministro da CGU, Waldir PiresWaldir Pires, deve apresentar a auditoria hoje ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Pires disse que a CGU enviará o relatório à CPI dos Correios, ao Ministério Público Federal, ao Tribunal de Contas da União, à Polícia Federal e à Advocacia Geral da União.

- Descobrimos que havia gastos significativos nos Correios que não tinham justificativa. Detectamos que não existia boa aplicação dos recursos públicos em vários contratos. As auditorias apontam irregularidades graves. Isso mostra que temos um sistema de controle que deixa muito a desejar. Estamos mandando o resultado das auditorias para os órgãos competentes para não ficar esse sentimento de impunidade - disse Pires.

A última fase da auditoria especial detalhou as operações irregulares na Rede Postal Noturna. Só com o superfaturamento nos pagamentos à Skymaster de 2001 a 2005, a CGU identificou um prejuízo de R$58,8 milhões. A CPI dos Correios investiga contratos irregulares dos Correios com a Skymaster, licitação direcionada e o pagamento de propina pela empresa a funcionários dos Correios.

Também foram identificados na Rede Postal Noturna problemas como o mau dimensionamento da carga contratada em várias linhas aéreas, sem a adoção de medidas corretivas. A CGU calculou ainda um prejuízo de R$10,7 milhões em pagamentos dos Correios às empresas aéreas Beta e TAF, em razão de reequilíbrios econômico-financeiros concedidos indevidamente.

Empresa de amigo do presidente é citada na investigação

Já no processo de aquisição de equipamentos de projetos como o Banco Postal (operado pelo Bradesco), um dos alvos da CGU foi o contrato vencido pelo Consórcio Alpha, tendo como principal empresa a Novadata Sistemas e Computadores, cujo dono é o empresário Mauro Dutra, amigo do presidente Lula. Um dos itens desse contrato previa a aquisição de 4.324 impressoras de código de barras. Os equipamentos foram comprados por R$10,4 milhões. Mas as impressoras não estão interligadas e por isso permanecem sem uso.

Chamaram ainda a atenção várias obras irregulares, como a construção do Centro de Tratamento de Cartas e Encomendas de Aparecida de Goiânia (GO). Orçada em R$7 milhões, a ECT chegou a pagar 94% do valor para a construtora Guimarães Castro e Engenharia Ltda, que rescindiu o contrato. Por isso, houve nova concorrência. Resultado: depois de dois aditivos, a ECT pagou mais R$7,08 milhões.

COLABOROU Alan Gripp

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Skymaster: contratos eram legais

ECT diz que vai analisar documento antes de responder

BRASÍLIA. A empresa Skymaster, responsável pela Rede Postal Aérea e citada no relatório da Controladoria Geral da União (CGU) como a responsável pela maior parte dos prejuízos causados à Empresa de Correios e Telégrafos entre 2001 e 2005, reagiu às conclusões do relatório. Em nota, a empresa diz que todos os contratos com os Correios foram ganhos em concorrências legais, transparentes e abertas a todas as empresas nacionais do setor. A nota afirma ainda que os contratos se referem "a fretamento de aeronaves, e não a quilos transportados".

Segundo a empresa, o relatório da CGU parte de parâmetros equivocados, inexistentes e fora do objeto do contrato. A Skymaster informa ainda que já apontou, em setembro, em notificação à Comissão de Ética Pública da Presidência da República, os "graves erros" cometidos nas investigações que ocorrem sobre os contratos da empresa com os Correios.

Já os Correios não se pronunciaram sobre o relatório da CGU, que aponta um prejuízo de pelo menos R$129 milhões nos contratos da Rede Postal Aérea Noturna e do Banco Postal, entre outros. A estatal informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que vai analisar o documento antes de prestar esclarecimentos.

Responsável pela operação do Banco Postal, o Bradesco informou que não vai se pronunciar, por enquanto, sobre as conclusões do relatório. Já a assessoria da Novadata Sistemas e Computadores S.A., que venceu o pregão para a compra de impressoras, e que segundo a CGU estão inutilizadas, não retornou as ligações feitas pelo GLOBO.