Título: Quando uma escada magirus emperra o Orçamento
Autor: Maria Lima/Isabel Braga
Fonte: O Globo, 30/12/2005, O País, p. 5

Só um dos dez relatórios da proposta orçamentária da União é votado, deixando todo o restante para 2006

BRASÍLIA. O Orçamento da União de 2006 só deverá ser aprovado em fevereiro. A disputa pela liberação de emendas parlamentares impediu o avanço da votação dos relatórios ainda este ano. O senador Heráclito Fortes (PFL-PI), em guerra contra o governo por causa da liberação de R$8 milhões para a compra de uma escada magirus para o Corpo de Bombeiros de Teresina, ameaçou várias vezes derrubar a sessão.

- Não é uma emenda pessoal, é de bancada. Pode parecer pouco, uma escada magirus, mas se não resolverem esse problema crucial para Teresina, vou obstruir hoje, amanhã e sempre. O Orçamento vai subir no telhado. Tomara que num telhado sem fogo - disse Heráclito.

Um dia depois do crédito de R$12,8 mil referentes à primeira parcela do salário extra pela convocação extraordinária, os parlamentares da Comissão Mista de Orçamento encerraram os trabalhos do ano com a votação de apenas um dos dez relatórios parciais. A exemplo do Conselho de Ética da Câmara, a Comissão Mista de Orçamento também entrou em recesso branco e só retomará os trabalhos em 17 de janeiro.

Agripino Maia: "Há 17 ministros ausentes de Brasília"

Heráclito reclamou tanto que o deputado Gilmar Machado (PT-MG) o pôs em contato com o secretário-executivo do Ministério da Justiça, que garantiu que o dinheiro sairá do Fundo Nacional de Segurança. O sucesso da pressão irritou bancadas aliadas e o próprio PT. Além disso, a maior parte dos ministros estava fora de Brasília, dificultando as negociações.

- Há 17 ministros ausentes de Brasília. O governo está ausente na hora que a discussão das emendas está sendo processada - criticou o líder do PFL, senador Agripino Maia (RN).

- Há dois meses ficou nítida a intenção da oposição de não votar o orçamento, para impedir o governo de fazer investimentos ano que vem. Mas o governo se preparou para o caso de o orçamento não ser votado como desejávamos - rebateu o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP), referindo-se ao empenho de R$13 bilhões em emendas.

O relator do Orçamento, deputado Carlito Merss (PT-SC), minimizou o atraso na votação:

- Desde que houve a convocação, já sabia que não teríamos como votar o Orçamento este ano. Mas nem o acordo de votar pelo menos três relatórios parciais foi cumprido pela oposição. Eu vou descansar um pouco até o dia 11, quando volto para negociar com o Planejamento pepinos como o salário-mínimo e Lei Kandir.

Esta semana, a única produtiva na comissão de Orçamento, os parlamentares votaram só o sub-relatório de Agricultura e Desenvolvimento Agrário.

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