Título: O estilo 'Oscarico'
Autor: ALFREDO SIRKIS
Fonte: O Globo, 30/12/2005, Opiniao, p. 7

O ano de 1936 entrou para a história da arquitetura com a visita do arquiteto suíço Le Corbusier ao Rio. Convidado por Lúcio Costa, que liderava a equipe designada para o projeto do edifício do Ministério da Educação e Saúde do governo Vargas, Le Corbusier influenciou uma geração de arquitetos que romperia com a escola funcionalista de linhas retas que estava em plena evidência, no rastro da Revolução Industrial. Assim nasceu a primeira obra de linhas monumentais que seguia os preceitos de uma nova ordem arquitetônica para o século XX. Da equipe de arquitetos, um nome se destacou: Oscar Niemeyer.

O carioca Oscar Ribeiro de Almeida de Niemeyer Soares nasceu nas Laranjeiras. Pensou em jogar futebol e até ensaiou no Fluminense. Felizmente optou pela arquitetura.

A partir do projeto da Pampulha, em Belo Horizonte, imprimiu um traço próprio, curvo, precedendo grandes nomes da arquitetura como Frank Lloyd Wright e o próprio Le Corbusier, que somente no pós-guerra desenvolveram um estilo mais livre. Niemeyer virou grife, mas é criticado pelo excesso formal. Acusam-no de privilegiar a forma em detrimento da função. Palavras vazias diante de uma produção inigualável: mais de 400 projetos.

Um dos maiores desafios da arquitetura, como arte utilitária, é o de atender a um determinado programa funcional e às limitações de orçamento. É da obra pública, mais comprometida com a liberdade artística, que saem, muitas vezes, obras-primas. Foi o caso de muitos projetos públicos de Niemeyer. Ele soube utilizar todo o potencial do concreto armado, criando surpresa e mesclando as tradições do colonial português com a beleza das curvas das montanhas, das praias e das mulheres do Rio. Sobre esse estilo "Oscarico" disse uma vez Le Corbusier: "Você faz o barroco muito bem, você tem as montanhas do Rio dentro dos olhos." E Drummond: "Oscar desenha na areia seu edifício."

Aos 98 anos, ele continua trabalhando diariamente no 10º andar do Edifício Ypiranga, de frente para o mar de Copacabana. Socialista, denuncia a profunda injustiça social: "Sinto-me um homem que ficou num canto a desenhar sem sentir o universo que o cerca em todas as suas grandezas e mistérios, sem tempo para olhar a própria vida", escreveu. "Mas estou tranqüilo. Fiz o que pude. Não esqueci os que sofrem e com eles caminho solidário."

HENOCK DE ALMEIDA é arquiteto.