Título: ALIADO NO CUMPRIMENTO DA META PARA 2006
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 30/12/2005, Economia, p. 19

Estudo prevê alta média de preços administrados em torno de 4,5% no ano que vem

SÃO PAULO. Um dos principais motivos para o arrocho dos juros este ano, que chegou a levar a taxa básica de juros (Selic) a 19,75% anuais, o IGP-M será um importante aliado do governo para o controle da inflação ao longo de 2006. Diferentemente do que ocorreu no fim de 2004, quando o IGP-M acumulou alta de 12,4%, arrastando para os reajustes de preços administrados e tarifas públicas (que respondem por um terço do IPCA) um resíduo inflacionário perigoso, a taxa recorde deste ano favorece o cumprimento da meta de 4,5% para o IPCA de 2006. E ainda abre caminho para uma possível aceleração do ritmo de reduções da Selic.

Estudo do economista Fernando Fenolio, da consultoria Rosemberg & Associados, mostra que os preços administrados e as tarifas públicas que são reajustados pelo IGP-M tiveram alta média de 9% em 2005, contribuindo com 2,73 pontos percentuais (ou 48%) da alta de 5,7% do IPCA estimada para este ano. Agora, Fenolio prevê que a alta média de tarifas e preços administrados ficará em torno de 4,5% no ano que vem, com uma contribuição de 1,37 ponto percentual da variação de 4,7% estimada para o IPCA.

- A perspectiva é de uma diminuição bastante razoável da contribuição dos preços administrados para a inflação de 2006 - diz Fenolio.

Heron do Carmo, professor da Faculdade de Economia e Administração (FEA) da USP, calcula que somente o efeito dos reajustes menores de tarifas e preços administrados reduzirá o IPCA em um ponto percentual, de cerca de 5,6% este ano para 4,5% em 2006. Carmo, como a maioria dos economistas, descarta a possibilidade de um novo contágio do IGP-M por causa das eleições.

Benefício da queda do IGP-Mjá foi sentido este ano

Primeiro, pondera ele, porque em ano eleitoral governos estaduais e prefeituras reajustam as tarifas públicas abaixo da inflação. Além disso, os preços das commodities têm-se comportado favoravelmente, apesar da forte valorização do real frente ao dólar.

- O IGP-M vai ser mais alto do que este ano, mas não a ponto de contaminar o IPCA. E as taxas de juros podem cair abaixo de 14% sem comprometer a meta de inflação - diz Carmo, que é presidente do Conselho Regional de Economia de São Paulo, e coordenou o IPC da Fipe durante 26 anos.

Para o atual coordenador do Índice de Preços ao Consumidor (IPC), da Fipe, Paulo Picchetti, parte das "bondades" que o IGP-M baixo trará já foram sentidas este ano. O índice começou a apresentar deflação ainda no primeiro semestre, aliviando razoavelmente os reajustes de tarifas, que se concentram entre julho e agosto. Para 2006, as bondades serão maiores.

- Pela primeira vez desde a desvalorização do real, em 1999, as tarifas públicas não serão os vilões da inflação, graças ao IGP-M - prevê Picchetti, completando: - É um dado real bastante positivo, porque os preços administrados vão jogar a favor do cumprimento da meta definida para o IPCA.

Ironicamente, lembra Picchetti, algumas tarifas, como as de telefonia, deixarão de ser reajustadas pelo IGP-M a partir do ano que vem. O índice de reajuste será substituído por uma cesta de índices de preços do varejo e do atacado. Aluguéis, energia elétrica, água, saneamento e transportes públicos continuarão atrelados exclusivamente ao IGP-M.

Com os preços de tarifas e serviços públicos bem comportados, o economista-chefe da Global Invest, Pedro Paulo da Silveira, diz que as atenções ao longo do primeiro semestre estarão voltadas para o comportamento dos preços dos alimentos, que caíram muito em 2005 e tendem a voltar a subir no ano que vem.

- Por isso, no primeiro trimestre há uma boa chance de a inflação pelo IPCA ficar um pouco acima da meta do Banco Central - observa Silveira, da Global Invest, que aposta numa nova queda de 0,75 ponto percentual na Selic no início de 2006.

Governo comemora os bons resultados do índice

Em meio às projeções favoráveis de economistas e analistas, a área econômica do governo comemora o resultado do IGP-M já há algum tempo. Em discurso para banqueiros no início de dezembro, em São Paulo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, destacou o papel do índice para que as expectativas de inflação convirjam para a meta, de 4,5%, em 2006.

- Em particular, o IGP-M deve alcançar em 2005 a taxa mais baixa desde a sua criação, em conseqüência do bom comportamento dos preços no atacado, os preços administrados e parcela importante das tarifas públicas também devem contribuir, em 2006, para um comportamento benigno das taxas de inflação - disse Palocci aos banqueiros.