Título: O MENOR IGP-M DA HISTÓRIA
Autor: Luciana Rodrigues
Fonte: O Globo, 30/12/2005, Economia, p. 19

Índice de inflação que corrige tarifa de energia ficou em apenas 1,21% no ano

Aqueda do dólar, o recuo no preço dos alimentos e a menor pressão dos produtos siderúrgicos fizeram a inflação medida pelo Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) fechar o ano em apenas 1,21%, a menor taxa da série histórica da Fundação Getulio Vargas (FGV), iniciada em 1989. O índice, usado no reajuste de tarifas públicas como energia elétrica, teve uma variação em 2005 equivalente a um décimo do registrado em 2004, quando o IGP-M foi de 12,41%. Em seis meses do ano, o índice registrou deflação, ou seja, queda média de preços. Inclusive em dezembro, quando o IGP-M ficou em -0,01%.

Como tem 60% de sua composição formada por preços no atacado - que incluem cotações de produtos agrícolas e commodities industriais, negociadas em dólar - o IGP-M é fortemente influenciado pelo comportamento do câmbio. Até ontem, o dólar acumulava queda de 12,40% este ano. Com isso, o IGP-M de 2005 foi menor inclusive do que o de 1998, quando o país ainda vivia no regime de câmbio controlado e o índice ficou em 1,78%.

Os preços no atacado fecharam 2005 em queda de 0,96%. Já a inflação ao consumidor, com peso de 30% no IGP-M, subiu 4,98%. E os custos da construção civil, que respondem por 10% do índice, tiveram alta de 6,84%.

Alimentos ajudaram a segurar a taxa

Segundo Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV, como o IGP-M passou por uma seqüência de deflações (entre maio e setembro a taxa foi negativa, assim como em dezembro), a tendência é que o índice acumulado em 12 meses permaneça abaixo de 1,5% ao longo do primeiro semestre de 2006. Para o consumidor, isso representa um alívio nos gastos com energia (reajustada pelo IGP-M) e telefonia (corrigida pelo IGP-DI, índice que usa a mesma metodologia).

- Todos os anos, os preços administrados são o vilão da inflação. No ano que vem, eles serão os mocinhos - disse Quadros.

Os contratos de aluguel também costumam ter o IGP-M como índice de referência, mas, nos últimos anos, têm sido reajustados em patamares bem abaixo da inflação.

No varejo, as principais pressões vieram dos preços administrados. A tarifa de ônibus urbano subiu 14,54% e a energia elétrica, 7,34%. Enquanto isso, os alimentos, tanto no varejo como no atacado, contribuíram para segurar a inflação. Alguns itens terminaram o ano bem mais baratos. É o caso dos bovinos (-10,35%) e das aves (-18,27%) no atacado, e do arroz branco (-18,96%) e do leite longa vida (-8,78%) no varejo.

Agrícolas podem subir em janeiro

Em dezembro, a deflação do IGP-M ocorreu graças aos preços no atacado, que recuaram 0,27%. Os preços ao consumidor subiram 0,52% e os custos da construção civil, 0,38%. Mas, para janeiro, os analistas não acreditam que haverá nova deflação. Alexandre Sant'Anna, da ARX Capital, lembra que os preços agrícolas podem subir, frente à estimativa de que haverá menos chuvas na Região Sul, o que pode prejudicar a safra.

- Mas isso terá um efeito restrito. E a recente alta do dólar não vai afetar os produtos industriais no atacado a curto prazo - avalia.

Quadros, da FGV, lembra que o IGP-M tem oscilado muito nos últimos anos e que a taxa de 1,21% de 2005 não representa um novo patamar. Mas ele também não vê um cenário de alta forte para o IGP-M em 2006:

- O IGP-M não deve voltar aos dois dígitos como vimos em anos anteriores. Com o atual superávit nas contas externas, não há razão para uma alta forte no dólar.

Soja terá mais peso em cálculo da FGV em 2006

A soja, que até este ano respondia por 1,47% do Índice de Preços no Atacado (IPA) da FGV, a partir de janeiro de 2006 terá peso de 4,49%. Essa é a principal mudança na atualização dos itens agrícolas da inflação que a FGV apresentou ontem. Enquanto a soja ganhou espaço, ocupando o primeiro lugar entre os produtos de maior peso, os bovinos, que até este ano eram os mais importantes do IPA agrícola, perderam participação: de 4,55% para 3,39%.

Segundo Salomão Quadros, coordenador de Análises Econômicas da FGV, as novas ponderações foram calculadas com base na produção agropecuária dos municípios brasileiros, investigada pelo IBGE. Como a soja ganhou participação na agricultura nacional nos últimos anos, seu peso ficou maior na inflação. Para se ter uma idéia, o valor médio da produção de soja entre 2002 e 2004 foi de R$26,2 bilhões anuais. Em 2004, esse montante chegou a R$32,6 bilhões.

As ponderações do IPA agrícola estavam sem atualização há cinco anos. Quadros explicou que, daqui para frente, a FGV tentará rever o índice da agricultura anualmente. O IPA responde por 60% dos Índices Gerais de Preços (IGPs) da FGV.

Os analistas acreditam que as novas ponderações não vão influenciar na trajetória da inflação pelos IGPs em 2006. Mas, a curto prazo, alerta Elson Teles, da corretora Concórdia, poderá haver uma leve pressão no IPA, já que o preço da soja tem subido nos últimos dias.

Assim como os bovinos, aves, ovos e leite perderam espaço no IPA. A cana-de-açúcar, que tinha peso de 1,94%, subiu para 2,06%, passando da quarta para a terceira posição nos itens de maior participação. (Luciana Rodrigues)

Inclui Qaudro: "Saiba mais sobre a taxa" (A Inflação nos últimos anos, O comportamento do índice em 2005, A alta de cada grupo em 2005, As quedas de preço mais importantes em 2005, As altas de preço mais importantes em 2005, O que muda nos pesos dos produtos agrícolas em 2006)