Título: DÓLAR FECHA O ANO COM DESVALORIZAÇÃO DE 12,4%
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 30/12/2005, Economia, p. 21

Mesmo com compras do BC, moeda teve maior queda desde 2003. Risco-país recuou 19,9% e Bolsa subiu 27,71%

Três meses consecutivos de compra de dólares pelo Banco Central (BC) não conseguiram impedir que a moeda americana encerrasse o ano com desvalorização de 12,40% frente ao real - foi a maior queda do dólar desde 2003, quando as perdas foram de 18,02%. No último dia de negócios de 2005, a moeda americana recuou 0,85%, cotada a R$2,325 para venda. Risco-país e Bolsa também encerraram o ano com o melhor desempenho em dois anos.

No dia 3 de outubro, o BC retomou as compras de dólares à vista. E, em 18 de novembro, voltaram os leilões de swaps cambiais, operações que ocorrem no mercado futuro e que, na prática, funcionam como uma compra de moeda. Da mínima do ano - R$2,164, em 11 de novembro - até ontem, o dólar subiu 7,44%. No último dia de operações no mercado brasileiro, o BC voltou a comprar dólares nos mercados à vista - por até R$2,325 - e futuro: ontem, vendeu o equivalente a US$375,3 milhões em swaps, por meio de 7.900 títulos cambiais.

Risco-Brasil fica próximo ao menor patamar do ano

O risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, recuou 0,33% ontem, para 306 pontos centesimais, próximo à mínima histórica de 303 pontos, registrada em 22 de dezembro. No ano até ontem, o indicador recuava 19,9%. A exemplo do dólar, foi o melhor resultado em dois anos: em 2004 o risco havia recuado 17,49% e, em 2003, 67,61%. Hoje haverá operações com títulos da dívida brasileira no mercado internacional, portanto, o último risco-país de 2005 ainda será calculado pelo banco JP Morgan. Ontem, o Global 40, título mais negociado da dívida externa brasileira, caiu 0,33%, para 128,92% do valor de face. No ano, subiu 8,67%.

- A ampla liquidez internacional beneficiou o mercado brasileiro este ano. Com juros baixos no exterior, os estrangeiros aumentaram as aplicações no Brasil. E, ao que tudo indica, 2006 ainda deve ser um ano muito bom para o mercado local, apesar da expectativa de eventuais solavancos por causa da especulação eleitoral - avalia Nami Neneas, superintendente da Banif Primus Corretora.

No último pregão de 2005, a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) subiu 0,96%, encerrando o ano com valorização de 27,71%. Foi o terceiro ano consecutivo de ganhos no mercado de ações e, a exemplo do dólar, também foi o melhor resultado desde 2003, quando a Bolsa avançou 97,34%.

Segundo levantamento feito pela consultoria Economática, o Ibovespa, principal índice da bolsa brasileira, teve a sexta maior alta do ano - de 43% em dólares - entre 17 índices de nove mercados globais monitorados pela consultoria (Argentina, Brasil, Chile, Colômbia, Espanha, Estados Unidos, México, Peru e Venezuela). Os índices S&P 500 e Nasdaq, por exemplo, avançaram 3,8% e 2,5% no mesmo período.

No pregão de ontem, o destaque foram as ações da Net, que chegaram a subir cerca de 5% no dia, para fechar em alta de 2,88%. O motivo foi o aumento da participação dos papéis no Ibovespa: a partir de janeiro, passarão a representar 2,17% de todo o índice, ante 1,7% no último trimestre. Com isso, ontem, investidores compravam as ações para se adequarem às mudanças.

Os operadores da Bovespa encerraram o último pregão do ano com uma enxurrada de papel picado e fogos de artifício. Na Bolsa de Mercadorias & Futuros (BM&F), os operadores boicotaram a tradicional celebração de fim de ano devido a rumores de que a bolsa pretende substituir, em 2006, o leilão viva-voz pelo eletrônico, a exemplo do que a Bovespa fez este ano.

Legenda da foto: OPERADORES NA Bolsa de Mercadorias & Futuros: boicote à tradicional comemoração de fim de ano