Título: TERROR SUICIDA EM QUATRO PAÍSES
Autor:
Fonte: O Globo, 30/12/2005, O Mundo, p. 24
Homens-bomba espalham destruição em Cisjordânia, Iraque, Rússia e Afeganistão
A violência de homens-bombas atingiu ontem quatro países: Israel, Iraque, Rússia e Afeganistão. Ataques nos quais os terroristas que usam o próprio corpo como arma têm sido cada vez mais comuns em todo o planeta, mas poucas vezes tal tipo de ação suicida foi aplicada ao mesmo tempo em tantos lugares.
|
Em Israel, a utilização de homens-bomba tristemente faz parte da vida cotidiana da população. No caso de ontem, um provável integrante do grupo terrorista Jihad Islâmica recebeu ordens de soldados israelenses para sair de um veículo, que estava indo da Cisjordânia para o território de Israel. O homem-bomba detonou os explosivos, matando um militar israelense e dois palestinos.
No Iraque, que sob a ditadura de Saddam Hussein não tinha casos de ataques realizados por suicidas com bombas escondidas sob as vestes, este tipo de ação se tornou uma das principais armas dos grupos rebeldes que lutam contra a presença de tropas americanas no país.
Mas grande parte das ações é realizada por integrantes de movimentos radicais islâmicos que entraram no país depois da derrubada do governo de Saddam. Em sua maioria compostos por estrangeiros, estes grupos têm como alvo preferencial soldados do reformulado Exército iraquiano e policiais. Em grande medida, a escolha ocorre devido aos equipamentos militares americanos, que oferecem maior proteção. A falta de preparo das forças iraquianas também faz delas as maiores vítimas dos ataques. No ataque de ontem, os alvos foram exatamente policiais iraquianos que montavam guarda num posto de controle próximo ao Ministério do Interior, em Bagdá.
Em Afeganistão e Rússia, os algozes se transformaram nas únicas vítimas das bombas. Próximo à fronteira com o Paquistão, dois terroristas afegãos detonaram acidentalmente os explosivos no momento em estes eram colocados em suas roupas. Os dois morreram.
Na república russa do Daguestão, um homem-bomba detonou os explosivos que levava no velório de um político, mas apenas ele morreu.
Disfarçado de policial, homem mata 4 em Bagdá
Num ataque em Latifiya, guerrilheiros massacram xiitas de uma mesma família
BAGDÁ. Vestindo um uniforme da polícia do Iraque, um homem-bomba entrou num posto de controle próximo ao Ministério do Interior, em Bagdá, e detonou os explosivos que carregava junto ao corpo. O ataque matou quatro policiais e feriu cinco, num dos mais violentos ataques de um dia especialmente sangrento no Iraque.
Em outra ação chocante, diversos membros de uma família xiita foram mortos por guerrilheiros em Latifiya, ao sul da capital iraquiana.
As versões sobre o ataque, no entanto, são muitas. Segundo a agência de notícias Reuters, 11 membros da família - que teria sido avisada para deixar a cidade por grupos sunitas - foram capturados e amarrados por seis homens armados numa casa e levados. Seus corpos teriam sido encontrados depois com as gargantas cortadas. Entre os mortos haveria quatro mulheres.
Já segundo a agência Associated Press, 12 homens entre 20 e 40 anos de uma mesma família xiita teriam sido levados de algumas casas e colocados numa van, onde teriam sido metralhados. Para a agência France-Presse, as vítimas teriam sido 14, entre elas mulheres.
No leste de Bagdá, um soldado americano foi morto pela explosão de uma bomba colocada na estrada que ele patrulhava.
Aviões americanos jogaram duas bombas de 230 quilos, uma em Duluiya, ao norte de Bagdá, e outra em Hawija, no norte do país. Segundo os americanos, 14 rebeldes foram mortos. De acordo com a polícia, três civis morreram na ação em Duluiya, entre eles uma criança de 5 anos.
Em Israel, 4 mortos e 9 feridos
Palestino detona explosivos ao ser abordado por policiais
TULKAREM, Cisjordânia. Quando soldados israelenses mandaram um palestino abrir seu casaco, depois de darem ordem para que ele saísse de um táxi (que fazia lotação), durante uma blitz, o passageiro fechou o casaco e detonou uma grande quantidade de explosivos que levava junto ao corpo. No atentado suicida, numa estrada perto de Tulkarem, na Cisjordânia, morreram um soldado de 21 anos e dois palestinos. Um deles era o motorista do táxi e o outro seria cúmplice do homem-bomba. Três soldados e seis palestinos ficaram feridos.
O atentado abalou uma frágil trégua de grupos militantes palestinos, iniciada há dez meses e com fim previsto o último dia de 2005, amanhã.
Nafez Shahin, de 48 anos, que também estava a bordo do táxi, contou:
- O homem saiu lentamente, fechou o casaco e explodiu.
O Exército israelense disse que a blitz foi feita devido a uma advertência de serviços de inteligência de que um homem-bomba estava a caminho de Israel para cometer um atentado durante o feriado da Festa das Luzes. Ele tentaria entrar em Tel Aviv. Depois do ataque, militares isolaram Tulkarem e ainda Qalqilya.
O governo israelense acusou líderes da Jihad Islâmica na Síria de planejarem o atentado. Tulkarem é um reduto desse grupo.
- O tempo todo eles estão tentando realizar operações. Um desastre maciço foi impedido - disse o vice-ministro da Defesa, Zeev Boim.
Al-Qaeda assume autoria de ataque a Israel lançado do Líbano
Segundo a Rádio Israel, a Jihad Islâmica assumiu a autoria do atentado. O grupo militante havia sido responsabilizado pelo mais recente atentado suicida em Israel, em que cinco israelenses morreram num shopping center em Netanya, no último dia 6. Em Gaza, a Jihad Islâmica não assumiu a autoria do ataque, mas ameaçou reagir à operação militar israelense iniciada na véspera para criar uma zona de exclusão terrestre no norte do território palestino.
O governo do primeiro-ministro Ariel Sharon disse ontem que continuará com os ataques em Gaza até que palestinos da região parem de lançar foguetes no território israelense.
Forças de segurança palestinas saíram ontem à procura de três britânicos seqüestrados na véspera no sul de Gaza, mas não os encontraram. Integrante de um grupo de direitos humanos, Kate Burton, de 25 anos, viajava de carro com os pais em visita à região quando homens armados se aproximaram em outro veículo e levaram os três.
Em mensagem na internet, a al-Qaeda assumiu a autoria do ataque em que um foguete foi lançado do Líbano contra Israel quinta-feira, informou ontem a TV al-Arabiya, de Dubai. Aparentemente, foi a primeira vez que a rede terrorista assumiu a responsabilidade por um ataque lançado do Líbano contra Israel.
http://oglobo.globo.com/online/mundo/
No Afeganistão e na Rússia morreram apenas os terroristas
Aparelho do tamanho de um celular explode num velório no Daguestão
SPIN BOLDAK, Afeganistão. Dois homens-bomba estavam pondo explosivos sob suas roupas numa cidade afegã - na preparação para um ataque suicida - quando os artefatos explodiram acidentalmente, matando-os, sem que ninguém mais fosse atingido. Numa região muçulmana da Rússia, um homem-bomba conseguiu detonar seus explosivos no meio de um velório, como planejara, mas também neste caso ninguém foi atingido.
O acidente com os homens-bomba afegãos aconteceu perto de um mercado na cidade de Spin Boldak, na fronteira com o Paquistão. Segundo o comandante Abdul Raziq, os terroristas planejavam cometer um atentado contra soldados afegãos de uma força comandada por militares americanos.
Já o atentado frustrado na Rússia aconteceu em Makhachkala, principal cidade do Daguestão, república no sul do país próxima à Chechênia. O homem-bomba agiu durante o velório do filho de um vice-ministro do Interior assassinado a tiros dois dias antes. Seu corpo foi estraçalhado pela explosão de um aparato do tamanho de um celular, detonado por controle remoto.
Não ficou clara a relação entre o homem-bomba e o velório de Magomedrashid Gazimagomedov, que acontecia numa casa perto de uma mesquita no centro da cidade de Makhachkala.
Militantes islamistas têm enfrentado com freqüência a polícia no Daguestão. A república tem sido atingida pela violência de rebeldes da vizinha Chechênia.
Legenda da foto: POLICIAIS CERCAM a cena do ataque