Título: VAZÃO REDUZIDA FAZ MAR AVANÇAR RIO ADENTRO
Autor: Heliana Frazao
Fonte: O Globo, 31/12/2005, O País, p. 9

`Chegamos ao extremo de pescar espécies do alto-mar a 150 quilômetros da foz¿

SALVADOR. Enquanto o governo briga pelo direito de iniciar as obras de transposição, o Rio São Francisco sofre com a redução de sua vazão, o assoreamento e a erosão das margens. Antes da construção das barragens, principalmente a de Sobradinho, o Velho Chico era tão caudaloso que jogava água doce mais de 16 quilômetros adentro no Oceano Atlântico. Atualmente, verifica-se um processo inverso: como a vazão diminuiu, o mar avançou rio adentro.

¿ Era possível colher água doce em pleno mar. Agora, chegamos ao extremo de pescar espécies próprias do alto-mar como a pilombeta, a até 150 quilômetros da foz, porque o rio não tem força para conter o avanço do mar ¿ diz o governador de Sergipe, João Alves.

O fenômeno já levou à destruição da Ilha do Cabeço, que ficava na foz do rio e foi engolida pelo mar. O povoado de 400 famílias de pescadores teve de ser removido e o farol construído na rua principal da ilha hoje está dentro do mar, resistindo como testemunha das agressões ao rio. A despeito de sua base de concreto, o farol balança ao sabor da correnteza.

Para o professor de geologia da Universidade Federal do Sergipe Luiz Carlos Pontes, membro do Comitê da Bacia Hidrográfica do São Francisco, as barragens provocaram os impactos ambientais observados desde que o São Francisco começou a perder volume. Isso, diz ele, deve-se ao fato de as usinas hidrelétricas terem sido construídas sem preocupações ambientais.

A degradação piora com os resíduos dos esgotos que as cidades lançam diretamente no leito do rio e de seus afluentes. Segundo Pontes, dos 504 municípios que compõem a bacia, apenas 5% têm tratamento de esgoto. As carvoarias também desmatam para alimentar siderúrgicas de Minas. (Heliana Frazão)