Título: O DRAMA DOS RIBEIRINHOS QUE PRECISAM SE MUDAR
Autor: Heliana Frazao
Fonte: O Globo, 31/12/2005, O País, p. 9

Casas são invadidas pelo mar e famílias de pescadores vão morar em lugarejo distante

SALVADOR e BRASÍLIA. Quem mais sofre com os problemas do Rio São Francisco são os ribeirinhos. A pescadora Beatriz dos Santos, 53 anos, não esquece a madrugada em que precisou abandonar às pressas a sua casa invadida pelo mar. Atualmente, ela e outras 100 famílias vivem num lugarejo do município de Brejo Grande, um dos mais baixos índices de desenvolvimento humano (IDH) de Sergipe. Ainda assim, Beatriz agradece a ajuda dos governos estadual e municipal, que desapropriaram terras para os desabrigados do mar.

¿ Foi muito triste, perdemos tudo, mas agradeço pela vida ¿ diz ela.

Governo recorre para não pagar indenização

Os demais pescadores foram remanejados para outros municípios da região. Mas, segundo o professor Luiz Carlos Pontes, da Universidade Federal de Sergipe, a Companhia Hidrelétrica do Rio São Francisco (Chesf), responsável direta pelo drama vivido pelos pescadores, nunca se importou. Há um processo pleiteando indenização às famílias, mas o governo sempre recorre.

¿ Nossa vida nunca mais foi a mesma. Vivíamos próximos do mar e do rio, tínhamos uma vida tranqüila, com pescarias fartas. Cansei de virar a madrugada tratando de peixe. As redes vinham cheias. Hoje, feliz daquele que consegue alguma coisa pra vender ¿ sente a pescadora Beatriz.

O governador de Sergipe, João Alves, também questiona o uso das Forças Armadas nas obras de infra-estrutura. Para ele, o fato de o Exército continuar fazendo medições topográficas a despeito de a Justiça ter proibido o início das obras, é um exemplo claro de que o governo Lula se considera acima do bem e do mal, sentindo-se no direito de confrontar a Justiça:

¿ Os militares que estão lá estão constrangidos, mas devem obediência à autoridade do presidente, que age de forma autoritária, absurda.

Souto: investimento é alto e não cumprirá objetivos

Para o governador da Bahia, Paulo Souto, o valor do investimento é alto e não vai cumprir os objetivos de tirar o semi-árido nordestino do atraso e garantir água para a região.

¿ Esse projeto não tem a menor viabilidade. Os organismos multilaterais de crédito sempre financiaram projetos relacionados a recursos hídricos. Por que não esse? É preciso discutir isso. (Heliana Frazão e Lydia Medeiros)