Título: MAIS DE 80% DOS ACORDOS SALARIAIS TIVERAM GANHOS ACIMA DA INFLAÇÃO
Autor: Wagner Gomes
Fonte: O Globo, 31/12/2005, Economia, p. 26

Pesquisa do Dieese com 600 sindicatos mostra reajuste real de até 4%

SÃO PAULO. Depois de amargar anos de perdas salariais, os trabalhadores chegaram ao fim de 2005 comemorando acordos com ganho real de renda. Mesmo com o crescimento da economia menor do que o registrado em 2004, mais de 80% dos sindicatos conseguiram aumentos iguais ou superiores à inflação nas negociações coletivas, segundo pesquisa preliminar do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioecononômicos (Dieese). Segundo José Silvestre, supervisor do departamento, foram pesquisados os acordos coletivos de 600 sindicatos.

¿ Os trabalhadores da indústria automobilística tiveram ganho próximo a 4%, os químicos, 2%, os empregados do setor moveleiro quase 2% e os de confecção e vestuário perto de 1%. Com economia em recuperação, as negociações ficam mais fáceis. O ânimo redobra sem a pressão da demissão e do desemprego e o trabalhador acaba lutando mais pela riqueza que ajudou a produzir ¿ disse Silvestre.

Primeiro semestre indicou recuperação da renda

Segundo o técnico do Dieese, 2003 foi o pior ano dos acordos salariais dos últimos tempos. Apenas 42% dos sindicatos conseguiram aumento igual ou superior à inflação. Em 2004 e 2005, a queda da inflação ajudou na conquista de maior reajuste salarial. Silvestre explicou que, em 2005, algumas categorias que não haviam nem mesmo zerado a inflação em 2004 acabaram conseguindo aumento real. É o caso da construção civil. Os ganhos reais também foram puxados pelo bom desempenho da indústria nos últimos dois anos.

O primeiro semestre já havia indicado a recuperação da renda do trabalhador. Foram 347 negociações no período. Desses, houve recomposição da inflação em 84% das negociações. O resultado superou os 76% registrados no primeiro semestre de 2004. Pelo estudo, 66% dos reajustes conquistados pelos trabalhadores superaram a inflação acumulada em um ano, de acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC). Os reajustes que representaram uma reposição exata das perdas salariais apuradas chegaram a 18% das negociações, somando 84%. Em 16% das negociações, os trabalhadores não obtiveram reajustes capazes de recompor plenamente os seus salários.

As expectativas também são boas para 2006. Segundo Silvestre, com as eleições, os investimentos devem aumentar no setor público, principalmente em infra-estrutura, facilitando as negociações salariais em setores como gráfica, papel e têxtil.