Título: BC ELIMINA COMPULSÓRIO SOBRE CÂMBIO
Autor: Patricia Duarte e Luciana Casemiro
Fonte: O Globo, 31/12/2005, Economia, p. 26

Economistas, porém, não acreditam em impacto na cotação do dólar

BRASÍLIA e RIO. O Banco Central (BC) decidiu ontem retirar a obrigatoriedade dos bancos de depositar o valor excedente a US$6 milhões das suas posições compradas em câmbio ¿ ou seja, de volume de dólares em carteira ¿ na autoridade monetária. Até então, se um banco tivesse US$20 milhões nesta circunstância, por exemplo, US$14 milhões tinham de ficar retidos no BC e sem remuneração.

O BC explicou, por meio de sua assessoria de imprensa, que a medida é mais um passo na ¿consolidação do regime de câmbio flutuante¿ no país, cujo impacto também será a redução dos custos de transação. Na prática, no entanto, a medida pode ajudar a evitar que o dólar se desvalorize mais frente ao real ¿ só neste ano, a depreciação foi de aproximadamente 13%. Quando um banco tem posição comprada, é porque ele está apostando na alta do dólar. E essa medida, aumenta a liquidez no mercado e a demanda pela moeda.

José Alfredo Lamy, sócio da Cenário Investimentos, não acredita, no entanto, que a medida terá impacto. Até porque, diz ele, o sistema bancário hoje tem uma posição vendida, ou seja, está apostando mais na queda do que na valorização do dólar.

¿ E a simples extinção do compulsório não é suficiente para uma mudança de posição. Se o governo quer incentivar a compra de dólares deveria começar reduzindo a taxa de juros e as tarifas de importação. O Brasil ainda é um país muito fechado ¿ diz Lamy, destacando que a legislação cambial brasileira é bastante restritiva.

Para economista, BC sinaliza que quer equilibrar câmbio

Carlos Thadeu de Freitas, ex-diretor do Banco Central, concorda. Para ele o fim do compulsório será inócuo:

¿ Sem a queda da taxa de juros essa medida é só um paliativo. Não vai adiantar nada, temos dólar em abundância lá fora e juros reais altos aqui, o que ainda faz com que o custo da manutenção das reservas seja muito alto.

Freitas acredita que o próximo passo do BC possa ser penalizar as instituições que tiverem posições vendidas. Mas, de antemão, avisa: também não vai adiantar:

¿ Só a queda mais acelerada da taxa de juros poderá mudar este cenário.

Para o economista Francisco da Costa, da GAP Asset Management, se na prática a medida tem pouco impacto, ela é uma sinalização de que o governo quer interromper a valorização do real:

¿ Não enxergava o compulsório como um grande empecilho para a compra de dólares. É lógico que era um custo. Mas o relevante é a sinalização do governo que quer equilibrar o câmbio. O que aliás já vinha sendo feito há três semanas, com a volta dos leilões de swap (que funcionam como compra de dólares no mercado futuro) e de moeda americana à vista.