Título: CELAS INDIVIDUAIS VIGIADAS POR CÂMERAS
Autor: Alan Gripp
Fonte: O Globo, 01/01/2006, O País, p. 11
Unidade de segurança máxima em Campo Grande receberá 200 presos
CAMPO GRANDE. A empreiteira contratada pelo Departamento Penitenciário Nacional (Depen) para construir o presídio federal de Campo Grande (MS) deve concluir a obra até o fim de janeiro. A unidade só será ativada entre março e abril, segundo o Ministério da Justiça.
Segundo a assessoria do Depen, em janeiro os 184 agentes penitenciários aprovados em concurso público iniciarão o treinamento, para em março esassumirem os postos. Enquanto isso, os 250 operários contratados pela empreiteira cearense que executa o projeto trabalham até aos sábados para evitar novos atrasos no cronograma. Inicialmente, a previsão era o prédio ficar pronto até setembro, mas o excesso de chuva atrasou o trabalho.
Presídios considerados de altíssima segurança
Os novos presídios federais que estão sendo construídos com o dinheiro do Fundo Penitenciário são considerados de altíssima segurança. A de Campo Grande terá 200 celas individuais e em todos os corredores serão instaladas câmeras para vigiar os presos. Os detentos só não serão vigiados pelos equipamentos eletrônicos de imagem quando estiverem nas celas. Também serão instalados equipamentos que bloqueiam os telefones celulares.
Todo o aparato tecnológico de segurança parece garantir tranqüilidade aos vizinhos do futuro presídio, onde cumprirão pena detentos considerados de alta periculosidade. Antonival Afonso, de 16 anos, é um deles. Ele veio de Fátima do Sul, interior de Mato Grosso do Sul, e há cinco anos faz o manejo do gado pelas pastagens próximas à unidade.
¿ Isso é ilusão das pessoas que falam do perigo de Fernandinho Beira-Mar vir para cá. No presídio vai ter muita polícia, muita segurança. Por isso, não tenho medo.
O aposentado João Barbosa, de 86 anos, concorda com Antonival e diz que não se incomoda com o presídio. Mas ele reclama que há quatro meses deixou de fechar um bom negócio por causa da unidade. Morando há dez anos numa propriedade de 12 hectares que fica a cerca de 500 metros da unidade prisional, ele disse que pretende se mudar para a cidade. Uma médica se interessou em comprar o sítio, mas na hora de fechar o negócio, foi convencida pelo filho a desistir por causa do presídio.
Próximo do sítio de João Barbosa vive Wadi Baganha, que hoje administra um pesque-pague construído pelo pai, em 1998, às margens do anel rodoviário que liga as rodovias que dão acesso a São Paulo e Sidrolândia. O pesqueiro fica a pouco mais de um quilômetro do presídio. Wadi disse que não teme pela segurança da família, já que haverá um esquema de segurança para evitar fugas.
O presídio federal de Campo Grande fica numa área afastada do centro da cidade, mas próxima da rodovia que nos últimos anos se tornou a rota do tráfico de maconha saída do Paraguai. Para driblar a fiscalização da Polícia Rodoviária Federal na BR-163, principal rodovia federal que passa por Mato Grosso do Sul e liga a região de fronteira ao Sul e Sudeste do país, os traficantes estão usando a BR-060 e as estradas vicinais que passam pelas fazendas da região de Maracaju e Sidrolândia. Mais da metade das apreensões de maconha feitas este ano foi naquela região. Além disso, os trens passam em frente ao presídio. Para o Depen, são detalhes que não representam risco.
(*) Especial para O GLOBO