Título: Achados corpos de duas vítimas de explosão
Autor: Roberta Canetti
Fonte: O Globo, 17/11/2004, O País, p. 10

Os bombeiros resgataram ontem os corpos de dois tripulantes do navio chileno Vicuña, que explodiu anteontem à noite no Porto de Paranaguá (PR). O navio estava carregado com metanol, combustível altamente inflamável. Os corpos de dois tripulantes ainda estavam desaparecidos ontem à noite.

A explosão, por volta de 19h45m de segunda-feira, partiu a embarcação ao meio. Começou então um incêndio que levou pânico à cidade, onde 30 mil moradores participavam das comemorações de Nossa Senhora do Rocio, a padroeira do Paraná. As chamas atingiram dez metros de altura. A embarcação começou a naufragar instantes após as explosões.

As chamas só foram totalmente apagadas quase 24 horas depois da explosão. Bombeiros de todos os municípios do litoral paranaense, brigadas de incêndio do terminal privado, a defesa civil e funcionários da Petrobras passaram a madrugada e todo o dia de ontem no píer. O convés do cargueiro está submerso, mas a proa (dianteira) e a popa (traseira) aparecem na superfície.

Corpo estava a cinco quilômetros do acidente

Às 10h30m de ontem foi encontrado o corpo do oficial eletricista Jose Eduardo Obreque, de 38 anos, a cinco quilômetros do acidente. Às 15h50m foi resgatado o corpo do encarregado da administração do navio, Juan Carlos Sepulveda, de 51 anos. Ronald Peña e Alfredo Omar Vidal estão desaparecidos. Os 24 sobreviventes, funcionários da empresa proprietária do navio, a Sociedad Naviera Ultragas, de Valparaiso, estão num hotel. Alguns tiveram ferimentos leves.

A explosão provocou também um dos maiores desastres ambientais da história do Paraná, segundo o Instituto Ambiental do estado (IAP). Não há dados sobre o volume do vazamento de metanol e óleo, mas técnicos encontraram resíduos de óleo a 18 quilômetros do terminal onde houve o acidente.

¿ A situação é crítica. É uma mancha segmentada, mas tem óleo em Paranaguá e Antonina, na Ilha do Mel e até em Guaraqueçaba. A Ilha das Cobras está envolta em óleo ¿ disse o diretor José Augusto Picheth, do IAP, após sobrevoar a região.

O cargueiro chileno atracou no píer da Cattalini Terminais Portuários carregado com mil toneladas de óleo combustível e 14 milhões de litros de metanol. De acordo com o secretário do Meio Ambiente do Paraná, Luiz Eduardo Cheida, o vazamento provocou a morte de pássaros, peixes, tartarugas marinhas e botos. A pesca, banho e atividades esportivas foram proibidas nas baías de Paranaguá, Antonina e Guaraqueçaba.

¿ Ainda não há um levantamento sobre animais mortos. O metanol é tóxico e pode provocar danos ambientais depois de vários dias. E o óleo provoca a morte lenta dos peixes, porque impede a oxigenação da água ¿ disse o secretário.

Não há informações sobre as causas do acidente. Seis peritos da Marinha, vindos de Brasília, estão em Paranaguá para as investigações. Dois peritos de Londres foram convocados pela empresa dona do navio para conduzir a apuração os motivos do acidente.

Por causa do risco de novas explosões, os terminais da Cattalini e da Transpetro, subsidiária da Petrobras, foram interditados pela Capitania dos Portos, por tempo indeterminado. O escoamento de derivados de petróleo (diesel, gasolina, óleo combustível e nafta), excedentes de produção da Refinaria Getúlio Vargas, em Araucária (PR), e o descarregamento de GLP (gás de cozinha), para abastecimento do Paraná e de Santa Catarina estão interrompidos. Os dois terminais só voltarão a operar quando a situação no píer da Cattalini estiver normalizada.

O engenheiro Henrique Lages, da Cattalini Terminais Marítimos, contestou a avaliação do IAP e da Secretaria do Meio Ambiente sobre o acidente.

¿ Falam da mistura entre o óleo e o metanol como se fosse uma mistura química extremamente violenta, o que não é verdade ¿ disse.

A empresa divulgou nota negando que o metanol tenha contaminado a água. ¿Os aproximadamente 5.000 metros cúbicos de metanol que ficaram nos tanques do Vicuña foram consumidos no incêndio e o vazamento aparentemente trata-se do combustível do navio¿, diz a nota. A empresa afirma que pôs toda a equipe e material necessários no combate ao incêndio e na contenção do vazamento. A Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina culpa a Cattalini pelo acidente.

¿ O porto não tem responsabilidade pelo acidente. A culpa é do navio, da seguradora e do terminal ¿ disse o superintendente, Eduardo Requião.