Título: MELHOR DO QUE A ENCOMENDA
Autor: Aguinaldo Novo e Ramona Ordoñez
Fonte: O Globo, 03/01/2006, Economia, p. 17

Balança fecha ano com superávit de US$44,7 bi. Previsão é de resultado menor em 2006

Apesar do câmbio desfavorável, a balança comercial apresentou resultado recorde em 2005. O superávit (diferença entre exportações e importações) foi de US$44,764 bilhões, 33% a mais do que em 2004 (US$33,6 bilhões). O volume de exportações também foi o maior da História do país e chegou a US$118,309 bilhões, acima da previsão de US$117 bilhões do Ministério do Desenvolvimento. Na comparação com 2004, as vendas externas cresceram 22,6%, superando a projeção de 14% do Fundo Monetário Internacional (FMI) para a média das exportações mundiais.

Otimista, o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan, previu ontem novo recorde das exportações em 2006, que pelas contas do governo devem chegar a US$132 bilhões, uma alta de 11,6% sobre 2005. Segundo ele, o país continuará a apresentar resultados superiores aos da média mundial, ainda que a meta inicial de crescimento das exportações para 2006 seja menor do que a variação registrada nos últimos anos ¿ de 21,1% em 2003, 32% em 2004 e 22,6% no ano passado:

¿ O mercado pode considerar otimista, mas nós temos convicção de que é uma meta completamente atingível.

Para empurrar as exportações, o ministro conta com a valorização mais acentuada do dólar nos próximos meses, no rastro de recentes medidas adotadas pelo Banco Central. Sem arriscar um valor para o câmbio, Furlan afirmou que a média das cotações em 2006 deve ficar acima do patamar de 2005:

¿ Acredito em muita coisa, inclusive na melhora do câmbio.

Investida em novos mercados

Na outra ponta, o Ministério do Desenvolvimento diz que a tendência neste ano será de crescimento mais acelerado das importações, ao redor de 20%. Isso aconteceria por causa da expansão mais forte do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de riquezas produzidas no país). Em 2005, o governo também começou prevendo importações superiores às exportações, mas o resultado final foi outro. Com o desaquecimento do mercado interno, as importações somaram US$73,545 bilhões, uma alta de 17%.

¿ Vai depender da temperatura do mercado interno ¿ disse Furlan.

Se essas previsões se confirmarem, o superávit neste ano poderá ficar abaixo do registrado em 2005. Furlan minimizou o resultado.

¿ Não temos preocupação de manter um superávit de US$44 bilhões, o Brasil não precisa disso ¿ afirmou ele, acrescentando que o forte aumento das exportações ajudou a derrubar a cotação do dólar.

Em 2005, as exportações continuaram puxadas pelo aquecimento da demanda mundial e pela elevação dos preços das commodities. O desempenho das vendas de produtos manufaturados foi o que mais contribuiu para o resultado geral, somando US$65,145 bilhões, aumento de 23,5% em relação a 2004. Já as exportações de produtos básicos foram de US$34,722 bilhões (alta de 22,2%) e as de semi-manufaturadossemimanufaturados, de US$15,961 bilhões (19,35%). Todos esses números são recordes.

Os principais compradores de produtos brasileiros foram Estados Unidos (US$22,7 bilhões), Argentina (US$9,9 bilhões) e China (US$6,8 bilhões). Mas cresceu a participação de mercados não tradicionais, como a Europa Oriental (alta de 55,8% no volume de exportações) e África (41,4%). Só em dezembro, países como Croácia, Etiópia, Congo, Líbia e Iraque aumentaram suas importações em mais de 100%.

Material de transporte (como automóveis e aviões) foi o maior exportador entre os segmentos analisados, com vendas de US$19,1 bilhões. Isso correspondeu a 16,2% das exportações de 2005 e a um aumento de 19,2% sobre 2004. Ainda em ordem decrescente de valor, aparecem produtos metalúrgicos (US$12,6 bilhões), complexo soja (US$9,5 bilhões) e petróleo e derivados (US$9,1 bilhões).

Furlan aposta em uma nova recuperação dos preços internacionais do minério de ferro neste ano. A balança comercial também deverá ser beneficiada pelo maior valor na venda de café e açúcar, reajustados em 20% no último trimestre. O governo quer incrementar ainda as vendas de frutas, carnes e etanol. Furlan viaja no fim de janeiro para Japão e China para negociar a venda de etanol.

Os recordes do comércio exterior poderiam ter sido melhores se a taxa de câmbio tivesse ajudado. Essa é a opinião do vice-presidente da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB), José augusto de Castro. Os preços elevados de alguns produtos, como minério de ferro, fizeram com que as exportações tivessem excelente desempenho apesar da desvalorização cambial e da febre aftosa ¿ que fez muitos países suspenderem a compra de carne brasileira.

Para este ano, o executivo da AEB prevê que as exportações brasileiras crescerão apenas 2,8%. Já as importações deverão registrar um aumento de 9,2%, fazendo com que o superávit fique em torno de US$41,8 bilhões, inferior ao de 2005. No ano passado, as projeções mais otimistas de especialistas para o saldo da balança era de US$34 bilhões, inferior em US$10 bilhões ao resultado final (US$44,764 bilhões).

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