Título: Com que roupa...
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 04/01/2006, O Globo, p. 2

Enquanto governistas e serristas do PMDB articulam para inviabilizar as prévias de 5 de março, o governador Roberto Requião (PR) está preocupado é com a ausência de um programa para ser defendido por um eventual candidato do partido. Sem a apresentação de um programa de governo, que faça a contestação da atual política econômica, Requião pergunta: ¿Para que candidato?¿

O governador, que perdeu para Orestes Quércia as prévias realizadas em 1994 e que não conseguiu emplacar sua candidatura na convenção de 1998, não vai disputar as prévias. Nem mesmo os elogios do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), à sua performance diante das câmeras de televisão são capazes de sensibilizá-lo.

¿ Não sou candidato porque não tenho o apoio do partido. Já tentei duas vezes ser o candidato e não consegui ¿ diz Requião.

O governador, que defende o anteprojeto de programa de governo apresentado ao partido pelo economista e ex-presidente do BNDES Carlos Lessa, reclama que foi desativada a discussão de um projeto alternativo para o país. Foram realizados debates apenas nos três estados do sul e em São Paulo. Na sua avaliação, tão negativo quanto não ter candidato a presidente é lançar um nome sem que se saiba o que ele irá defender e que forças estão dispostas a apoiá-lo.

¿ Ninguém governa o Brasil sem uma estrutura política de apoio. Estou muito velho para me empolgar com aventuras ¿ afirma Requião.

Mas ao mesmo tempo em que se queixa de não saber com que roupa o PMDB participará das eleições presidenciais, Requião também reage aos vetos e as tentativas de excluir candidatos. O governador concorda em deixar as prévias para 12 de março, mas considera que adiá-la para depois desta data é uma forma de excluir do processo os governadores do partido. Da mesma forma diz que é inaceitável que tentem vetar a candidatura do ex-governador do Rio Anthony Garotinho. Requião não se empolga com a candidatura, mas concorda com o discurso, e afirma que a política econômica do presidente Lula foi descartada pela evolução dos fatos. Lembra que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, defendeu que a atual política de ajuste fiscal deveria durar mais 16 anos. Para Requião, um candidato à Presidência da República que, não inclua uma proposta capaz de mudar o Brasil, está fadado a se diluir e a ser abandonado pelo partido nas eleições.

Do relator da CPI dos Correios, Osmar Serraglio (PMDB-PR), sobre o Orçamento: ¿Quem faz o Orçamento é o povo, nós somos o povo e temos de dizer onde o país vai investir¿.

O PFL já se definiu em favor de Serra

Os pefelistas podem não fazer coligação formal para as eleições presidenciais, como nas eleições de 2002, mas já estão decididos a dar apoio político à candidatura do prefeito de São Paulo, José Serra.

Integrantes da direção do partido já andaram conversando com Serra até sobre eventuais alianças nos estados. A conclusão é de que em apenas seis estados há dificuldades intransponíveis para uma aliança, entre os quais a Bahia, onde o PSDB lançará candidato ao Senado o ex-prefeito de Salvador Antonio Imbassahy.

Para a direção pefelista a candidatura do governador Geraldo Alckmin perdeu o bonde. Isso ocorreu no momento em que o presidente Lula ainda era o favorito e Alckmin, sob o argumento de que era muito cedo, recusou-se a assumir a tarefa de enfrentar o petista.

O PFL continua defendendo o fim da verticalização, mas se ela for mantida o partido ficará torcendo para que o PMDB não tenha candidato ao Palácio do Planalto. Nesse caso, nos estados em que o PFL não se alinhar com o PSDB, poderá fazê-lo com o PMDB.

Pressão

Mesmo com o apoio dos partidos aliados e da oposição, o governo não conseguiu até agora votar a Lei Geral de Micro e Pequenas Empresas. Quem comanda o lobby contra a aprovação da lei são as associações de municípios e prefeitos. As entidades alegam que a lei reduzirá a arrecadação tributária dos municípios. No Rio de Janeiro, por exemplo, a aprovação da lei reduzirá a arrecadação municipal em R$90 milhões.

A OPOSIÇÃO quer ampliar os poderes da Advocacia Geral da União (AGU). O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), encomendou emenda para que a AGU exerça tarefas de controle interno dos atos do Executivo e assuma a cobrança da dívida ativa da União. A AGU passaria a controlar até mesmo os departamentos jurídicos próprios de cada ministério.

NO DIA 26 de dezembro o presidente Lula aprovou uma linha de crédito de R$150 milhões para a expansão da rede federal de educação profissional e tecnológica. Domingo, no ¿Fantástico¿, o presidente afirmou: ¿... Nós também vamos colher, porque este ano já estarão prontas 25 novas escolas técnicas de formação profissional, coisa que há muito tempo não se fazia no Brasil¿.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

O bicho vai pegar

O presidente Lula quer que o PMDB abra mão de lançar candidatos ao governo em alguns estados em função das alianças formais e informais que fará para disputar a reeleição. Em fevereiro fará uma rodada de encontros com seus aliados para conhecer as pretensões de cada um. Depois será a vez de ouvir o PT, que apesar de estar por baixo por causa da crise política, não parece disposto a abrir espaço para os aliados.