Título: ALAVANCA EXTERNA
Autor:
Fonte: O Globo, 04/01/2006, Opinião, p. 6

Pelo quinto ano consecutivo as exportações brasileiras tiveram desempenho espetacular, chegando a apresentar um crescimento de quase 23% em 2005, ao atingir o nível recorde de US$118,3 bilhões.

Excetuando-se os países exportadores de petróleo, que, favorecidos pelo salto nas cotações do produto, tiveram um aumento expressivo nas suas receitas, o Brasil se situou no ano passado entre as cinco nações com maior crescimento das exportações, como bem assinalou o ministro do Desenvolvimento, Luiz Fernando Furlan.

Na Ásia, economias com essas características são chamadas de ¿tigres¿. Aqui na América do Sul, poder-se-ia muito bem classificar a economia brasileira na categoria das ¿onças¿. De fato, as exportações têm pavimentado o caminho para um processo de recuperação mais duradouro e consistente da economia do país. As vendas para o exterior permitiram uma expansão de atividades industriais e agrícolas que não teriam respaldo no mercado doméstico. Com isso, foram gerados empregos que asseguraram demanda para setores que não encontram oportunidade lá fora.

Assim, não fosse o extraordinário desempenho das exportações, provavelmente a economia brasileira como um todo sequer teria crescido no ano passado, face aos ajustes não concluídos no plano interno, em especial nas finanças públicas.

O resultado das exportações fortaleceu as reservas cambiais e permitiu que o Brasil reduzisse a dívida externa. Todos os indicadores relacionados às contas externas mostram que o Brasil se afasta cada vez mais da zona de risco, tornando-se menos vulnerável a crises financeiras com origem no exterior. Em pleno ano eleitoral, as necessidades de contratação de crédito em moeda estrangeira foram reduzidas a valores considerados pouco relevantes para uma economia com as dimensões da nossa.

Vale ressaltar que as exportações continuaram a crescer mesmo com a apreciação do real diante das principais moedas. Houve realmente uma mudança estrutural no setor produtivo, que está mais competitivo e atento à abertura de mercados.

Não por acaso o ministro Furlan previu US$132 bilhões de exportações para 2006. Talvez seja uma previsão conservadora.