Título: A candidatura
Autor: Ilimar Franco
Fonte: O Globo, 05/01/2006, O GLOBO, p. 2

Integrantes da cúpula do PSDB acreditam que a existência de um candidato a presidente do PMDB poderá determinar a realização de um segundo turno nas eleições. Convencidos de que o pleito está no papo, os tucanos são os maiores interessados numa eleição plebiscitária. Ao contrário do presidente Lula, que há algum tempo percebeu que um candidato do PMDB poderia ajudá-lo.

Além dos candidatos às prévias, o governador Germano Rigotto (RS) e o ex-governador Anthony Garotinho, dirigentes do partido também têm como alternativa o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Nelson Jobim. Seu nome passou a ser cogitado no PMDB e também no PFL num momento da crise política em que se imaginava que o governo Lula beijaria a lona moral e no embate arrastaria junto o PSDB. Nesse cenário, teria um bom perfil um candidato acima de qualquer suspeita e que representasse uma nova referência ética e pudesse pacificar o país.

O ambiente de falência múltipla não se criou e fatos ocorridos no decorrer do processo mudaram posições. O PFL, que em 1993 apoiou a indicação do então deputado Nelson Jobim para ser o relator da revisão constitucional, se afastou da eventual candidatura Jobim. O distanciamento começou quando o ministro criticou publicamente os que defendiam o impeachment do presidente Lula e se cristalizou no decorrer do processo com as decisões tomadas no âmbito no STF sobre os trabalhos da CPI dos Correios e do Conselho de Ética da Câmara.

Jobim também tem problemas no PMDB, onde ele nunca foi uma coqueluche. Nesse momento ele não uniria nem os gaúchos, que estão afinados com a candidatura de Rigotto. O ex-ministro dos Transportes do governo passado Eliseu Padilha (PMDB-RS) é uma voz isolada a seu favor. Entre os peemedebistas que têm uma posição mais à esquerda e que fizeram oposição ao governo Fernando Henrique, como o governador Roberto Requião (PR), também há restrições. O ministro do Supremo também não tem disposição de disputar as prévias marcadas para 5 de março e historicamente a divisão do PMDB não permite a esse partido ungir nomes consensuais.

Apesar das condições adversas, o nome de Jobim está no jogo. Sobretudo se em março ele antecipar sua saída do tribunal e se filiar a um partido político. Pois até mesmo quem não aposta em sua candidatura a presidente, reconhece que ele seria um ótimo vice.

A executiva do PSDB decidiu contratar uma empresa de auditoria para cuidar da sua contabilidade. Os tucanos não querem saber de surpresas desagradáveis no ano eleitoral.

Todo esforço para aprovar relatório

Os parlamentares da oposição que integram a CPI dos Correios estão convencidos de que os governistas tentarão evitar a aprovação de um relatório final. O anúncio do deputado Carlos Abicalil (PT-SP) de que seria apresentado um relatório paralelo foi interpretado como um sinal de que os petistas tentariam criar um caso, como os que impediram a aprovação dos relatórios das CPIs do Banestado e do Mensalão. A oposição não quer que isso ocorra e está disposta a ceder para que seja aprovado o relatório do deputado Osmar Serraglio (PMDB-PR).

Os tucanos, por exemplo, já deram sinal verde para que seja incluído um item no relatório que trate amplamente do caixa dois da campanha do senador Eduardo Azeredo (PSDB-MG) ao governo mineiro em 1998. Eles não querem dar pretexto para que a manobra petista tenha apoio na opinião pública. Para que a CPI não naufrague num impasse, a oposição conta ainda com o interesse e o empenho do presidente da comissão, senador Delcídio Amaral (PT-MS), que é candidato a governador.

Informal

O presidente Lula já criou uma coordenação informal de sua campanha pela reeleição. Ela é integrada pelo ex-presidente do PT Tarso Genro, pelo assessor especial para assuntos internacionais, Marco Aurélio Garcia, e pelo ex-secretário de Comunicação Luiz Gushiken. Lula já pediu ao PT que comece a estruturar a campanha, criando um núcleo para formular o programa de governo e contratando uma equipe de marketing.

OS PARLAMENTARES que não abriram mão de receber dois salários a mais pela convocação extraordinária estão criticando os que fizeram doações com o dinheiro. Dizem que somente foram coerentes os que não receberam nada e que é pura demagogia abrir mão do salário e destinar a verba para entidades de suas bases eleitorais.

O FÓRUM SOCIAL MUNDIAL não será mais um evento único. Neste ano haverá um Fórum para as Américas, em Caracas, na Venezuela, de 24 a 29 de janeiro; um para a África, em Bamaco, no Mali, de 19 a 23 de janeiro; e um para a Ásia, em Karachi, no Paquistão, em março.

E-mail para esta coluna: ilimar@bsb.oglobo.com.br

Intenção de voto

O fato aconteceu no debate organizado pelo Instituto Teotônio Vilela, no dia 2 de dezembro, em Aracaju (SE). Presentes os dois pré-candidatos tucanos: o governador Geraldo Alckmin e o prefeito José Serra. No final do encontro, um dos presentes se aproximou de Alckmin e disse: ¿O governador vai me desculpar, mas vou dar um abraço no futuro presidente do Brasil¿. Abraçado, Serra retribuiu com um largo sorriso.