Título: Desgastado, Congresso se articula para votações durante a convocação
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Fonte: O Globo, 05/01/2006, O País, p. 4

Aldo se diz otimista sobre aprovação de matérias de interesse da sociedade

BRASÍLIA. Preocupados com o enorme desgaste dos primeiros reflexos desta convocação extraordinária do Congresso, deputados e senadores já articulam uma estratégia para tentar votar projetos importantes e polêmicos este mês. Todos admitem o erro de iniciar a convocação sem votações em plenário, mas trabalham para reverter o impacto negativo, votando matérias que representem uma resposta à sociedade.

O presidente da Casa, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), listou ontem os projetos passíveis de votação nesta convocação: a emenda constitucional que cria o fundo de financiamento do ensino básico (Fundeb); a lei geral das pequenas e microempresas; o fim do pagamento extra aos parlamentares e a redução do recesso parlamentar.

¿ Sou um otimista e vou me esforçar para que estes pontos sejam aprovados ¿ disse Aldo.

Mas deputados e senadores já admitem o erro de iniciar a convocação sem votações.

¿ Foi uma convocação equivocada, que impôs à Casa um grande desgaste ¿ disse o senador César Borges (PFL-BA).

Em conversas reservadas, o próprio presidente Luiz Inácio Lula da Silva, avalia que a convocação foi um erro. A avaliação que se fazia ontem no Palácio do Planalto é de que foi um tiro pela culatra, já que o objetivo da oposição era sangrar o governo, com a manutenção do foco na crise política. Em vez disso, o alvo passou a ser o próprio Congresso.

Duas MPs trancam pauta

Aldo convocou sessão deliberativa para às 18h30m de segunda-feira, dia 16, e sessão deliberativa até na quinta-feira, dia 19. A votação do requerimento de urgência do decreto legislativo que acaba com o pagamento extra para convocações extraordinárias é o primeiro item. A pauta, porém, estará trancada por duas medidas provisórias e o projeto que cria a Super Receita. O líder do PTB, José Múcio (PE), acredita em votações a partir do dia 17 :

¿ Minha bancada quer ajudar a votar. Não vamos contribuir para um desgaste ainda maior da imagem da Câmara.

Contrário à convocação, o líder do PSB, Renato Casagrande (ES), afirma que só a aprovação do fim do pagamento extra e da redução do recesso parlamentar poderão redimir a Casa de um desgaste maior. Ele afirma que todos os líderes terão que trabalhar para trazer suas bancadas à Brasília.

¿ O Conselho de Ética e a Comissão do Orçamento pisaram na bola, não agiram da forma como precisavam agir. Nós líderes temos que cobrar a presença e garantir as votações. Não dá para brincar. Temos que produzir!

O líder do PFL, Rodrigo Maia (RJ), acha que haverá votação:

¿ A Casa vai se sentir pressionada. Vamos ter que mostrar serviço.

¿ Acho que podemos votar muita coisa, até para diminuir o desgaste desta fase inicial, porque faltou habilidade quando se marcou a data da convocação. Por isso vamos tentar cumprir ao máximo a agenda ¿ acrescentou o líder do PL, Sandro Mabel (GO).

O secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ) afirma que a convocação foi necessária, embora reconheça alguns erros desta primeira etapa. Para ele, se a CPI dos Correios puder avançar nas investigações e o Conselho de Ética no julgamento dos deputados acusados de envolvimento no valerioduto, terá cumprido o seu papel.

¿ Caso contrário ... que Deus nos proteja! ¿ disse Paes