Título: Casseb sai e abre disputa no BB
Autor: Geralda Doca, Luiza Damé e Martha Beck
Fonte: O Globo, 17/11/2004, Economia, p. 25

Cansado da constante ingerência política do PT na administração do Banco do Brasil (BB) e irritado por ter sido alvo de denúncias de irregularidades fiscais e na concessão de patrocínio pela instituição, segundo assessores, o presidente do BB, Cássio Casseb pediu ontem demissão. O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, disse ter tentado convencer Casseb a permanecer no cargo, mas acabou aceitando o pedido, comunicado no fim da tarde. O vice-presidente da Área Internacional do BB, Rossano Maranhão Pinto, assumirá interinamente como presidente. Mas Palocci ¿ que enfrentará uma queda-de-braço com a área política do governo, que quer um nome ligado ao PT no cargo ¿ indicou que Rossano tem fortes chances de ser efetivado.

Em entrevista para anunciar a mudança, Palocci negou ter sofrido pressões políticas ou do próprio governo para a saída de Casseb. Ele agradeceu, também em nome do presidente Lula, a contribuição de Casseb à instituição e explicou que ele estava deixando o BB porque, desde o início, não tencionava permanecer no cargo até o fim do governo. Casseb desfrutava de um conceito elevado junto ao presidente Lula, que chegou a considerá-lo ¿o seu melhor ministro¿.

¿ Eu pedi que ele estendesse um pouco o prazo de permanência, mas ele pediu neste fim de semana para encerrar sua presença no BB. Não recebi nenhum pedido de partido político ou do governo para a substituição do Cássio ¿ disse Palocci.

Ala petista defende escolha de Berzoini

Casseb, que menos de uma hora depois da entrevista de Palocci já estava no aeroporto deixando Brasília, não quis dar muitas explicações sobre sua saída do BB:

¿ Eu vim para cá com o objetivo de ajudar e fazer o que fosse possível pelo banco e pelo país. Passaram-se dois anos e está na hora de voltar para casa.

E brincou com seu hábito de chamar o banco de ¿o lojinha¿, uma referência à sua ascendência turca:

¿ Vou sentir muita saudade do lojinha.

Palocci disse que convidou Casseb a permanecer no governo e ofereceu-lhe uma posição no Conselho de Administração do próprio BB. Casseb ainda não respondeu.

¿ Estou cercando o Cássio de todas as maneiras para que ele fique no governo. Ele está escapando de mim, mas tenho certeza de que ele vai continuar contribuindo ¿ disse Palocci, acrescentando que Rossano é ¿prata da casa¿. ¿ É economista formado na UnB e na Universidade de Illinois e, portanto, tem uma formação bem mais adequada do que o próprio que vos fala (Palocci é formado em Medicina).

Ontem, dois nomes circulavam como prováveis substitutos de Casseb: na categoria técnica, Nelson Rocha, presidente da BB DTVM, amigo e ex-secretário de Palocci em Ribeirão Preto; e na categoria política, o ministro do Trabalho, Ricardo Berzoini, bancário de carreira e ex-sindicalista. Palocci disse que não há data para a escolha, mas afirmou que, se Rossano pode ser interino, ele pode ser presidente do banco.

A confirmação do nome de Rossano, segundo afirmavam assessores, teria a simpatia de Casseb e de alguns petistas ligados ao BB.

Embora Casseb tenha pedido demissão, as pressões para a sua saída aumentaram nos últimos dias, principalmente depois da greve dos bancários, que durou um mês. Durante a paralisação, Casseb saiu de férias e teria recebido uma avaliação negativa pela forma com que conduziu a negociação com os funcionários.

Na semana passada, circulou entre parlamentares, nos ministérios e nas empresas ligadas ao BB um abaixo-assinado encabeçado pela Confederação Nacional dos Bancários (CNB), ligada à CUT ¿ que coordenou a greve dos bancários ¿ pedindo mudanças na direção do BB.

¿O funcionalismo não suporta mais ver a empresa comandada por dirigentes que não têm qualquer afinidade com as políticas governamentais de retomada do crescimento¿, diz o texto.

Tradicionalmente, o PT tem força entre os bancários, especialmente no BB, e alguns desses líderes estão em postos estratégicos do governo, como os ministros Berzoini e Luiz Gushiken (Comunicação de Governo).

O diretor de Marketing e Comunicação do BB, Henrique Pizzolato, com fortes vínculos no PT e respaldado por boa parte dos funcionários, tinha posições conflitantes com as de Casseb.

Embora Berzoini, que é funcionário licenciado do banco, tenha ontem negado ter sido sondado para assumir o BB, nos bastidores uma corrente interna do banco, ligada ao PT, se articulava a favor de sua nomeação. O movimento foi deflagrado por funcionários da própria instituição e teria o apoio de diretores de segundo escalão do BB.

Em Brasília, chegou a circular um boato de que petistas insatisfeitos com a gestão de Casseb teriam aprovado uma moção em que pedem ao Palácio do Planalto a indicação de Berzoini para o BB.

Escolhido para a presidência do BB por se enquadrar no perfil técnico idealizado por Palocci, sob indicação dos economistas João Sayad e Andrea Calabi, Casseb não teve força política para escolher a diretoria da instituição. Com isso, perdeu o comando do BB e não conseguiu resgatar o papel público da instituição, que inclui facilitar o acesso ao crédito. A avaliação de alas do governo é que a Caixa Econômica Federal tem tido melhor retorno nessa área.

A saída de Casseb não surpreendeu os aliados do governo. Segundo a líder do PT, senadora Ideli Salvatti (SC), ele havia comunicado ao presidente Lula o pedido de demissão depois do desgaste provocado pela compra de ingressos um show da dupla Zezé di Camargo e Luciano, que arrecadaria fundos para a compra da nova sede do PT. Casseb disse a senadores petistas que não queria mais ficar submetido a pressões políticas.

Logo após a eleição municipal, os ministros José Dirceu, da Casa Civil, e Aldo Rebelo, da Articulação Política, alertaram senadores de que a saída de Casseb era iminente.