Título: TÉCNICOS CRITICAM TAPA-BURACO EM ÉPOCA DE CHUVAS
Autor: Bernardo de la Peña/Flávio Freire
Fonte: O Globo, 06/01/2006, O País, p. 9

Trechos reparados nas estradas poderão apresentar novos problemas em até três semanas; Delcídio censura pacote de obras

SÃO PAULO e BRASÍLIA. A operação tapa-buracos anunciada pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva terá início em plena estação de chuvas em grande parte do país, o que para especialistas no setor rodoviário é um péssimo sinal. Esses técnicos afirmam que a umidade provocada pela chuva impede maior absorção do asfalto, fazendo com que ele ceda com mais facilidade.

Em alguns casos, após os temporais comuns nesta época, o buraco tapado pode surgir novamente em até três semanas, dependendo do tráfego. Com a qualidade do trabalho afetada, esses especialistas avaliam que a situação das estradas brasileiras não deve mudar muito nos próximos 12 meses.

- Começar essa operação em plena estação de chuvas é, no mínimo, impróprio. Muitos desses buracos vão ser tapados com alto nível de umidade no solo. Ou seja, o asfalto vai ceder com rapidez - diz o assessor técnico da Associação Nacional dos Transportes de Cargas (ANTC), Neuto Gonçalves dos Reis, lembrando que dificilmente o cronograma estabelecido pelo governo será cumprido. - Em alguns dias os operários não vão ter como trabalhar e ainda assim a estrada continuará aberta. Caminhões e ônibus vão continuar circulando nessas rodovias e os operários vão, na verdade, trabalhar em vão.

Para ele, o governo precisaria estabelecer um programa emergencial de restauração das rodovias. Sem isso, diz o assessor da ANTC, os governos continuarão gastando milhões de reais em ano eleitoral e o problema não será resolvido.

O presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros, José da Fonseca, também criticou ontem o fato de o governo federal não ter cumprido a promessa feita ano passado, de investir cerca de R$6 bilhões para recuperar as estradas.

- Lula só quer empurrar o problema para o ano que vem. É ano de campanha. Todo mundo sabe que basta cair uma chuvinha e novas crateras aparecem - critica Fonseca, para quem o governo deveria investir na fiscalização de carga pesada.

- Não há uma fiscalização regular de excesso de peso, não há balanças suficientes em todo o país. Somando esse tapa-buraco de fachada com o tráfego pesado nas estradas, a situação vai continuar caótica - diz Fonseca.

O presidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), criticou ontem o pacote de obras nas estradas anunciado pelo governo:

- Pensei que 2005 ia ser o ano das estradas, dos portos e da energia e não foi. O Brasil não caminha sem infra-estrutura. E medidas emergenciais não resolvem o problema - afirmou o senador.

- Precisamos atender o básico e o fundamental na área de infra-estrutura. Ficamos no remendo e não resolvemos o principal - afirmou.

COLABOROU: Bernardo de la Peña

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