Título: `Ela representa a radicalização dos neoconservadores¿
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 17/11/2004, O Mundo, p. 32

Com a saída de Colin Powell do Departamento de Estado, o governo americano perde a voz moderada e multilateralista, com o próprio departamento, o de Defesa e o novo conselheiro de Segurança Nacional formando uma única posição em questões como Iraque e Israel, acredita Lou Cantori, professor de ciência política da Universidade de Maryland. ¿Todas as mudanças no Ministério significam que ele está se radicalizando¿, disse Cantori, ao GLOBO, por telefone. Cristina Azevedo

O que muda com Condoleezza Rice no Departamento de Estado?

LOU CANTORI: Todas as mudanças que observamos no Ministério significam que ele está se radicalizando, devido aos fundamentalistas religiosos. Eles estão pedindo uma reordenação com posições de autoridade no Gabinete. Condoleezza representa também a radicalização dos neoconservadores.

Como isso influencia a política externa?

CANTORI: Não haverá mais uma voz moderada nas decisões sobre segurança nacional. Stephen Hadley, que era assistente dela, será agora o conselheiro de Segurança Nacional. Então, de agora em diante o Departamento de Estado, o de Defesa e o conselheiro de Segurança Nacional estarão completamente unidos em sua política sobre Iraque, Palestina e Israel.

Como isso afetaria Israel? Powell era respeitado tanto por israelenses quanto por palestinos. Pode haver reação a ela?

CANTORI: Condoleezza Rice regularmente se encontra com um dos ex-conselheiros de Ariel Sharon, Dov Weisglass. Em outras palavras, tem uma conexão pessoal com Sharon. E agora se torna secretária de Estado. Significa que deverá ser mais pró-Israel.

A relação dos EUA com a Europa tem sido delicada. Como será com Condoleezza?

CANTORI: Ela será mais atenciosa e mais voltada para a Europa do que Rumsfeld. Isso está relacionado a sua educação, já que é especialista em política russa e soviética. Mas ela foi a autora do Plano de Segurança Nacional, onde está a Doutrina de Ataque Preventivo, como ocorreu no Iraque. Em outras palavras, ela é a autora do unilateralismo.

E com respeito à América Latina, que parece ter sido esquecida no primeiro mandato?

CANTORI: Não vejo por que isso mudaria. A política americana está quase totalmente preocupada com Afeganistão, Iraque e Israel. Não estamos sequer engajados na questão do Irã e da Coréia do Norte. É por isso que Powell tomava iniciativas nessas áreas porque ninguém mais o faria.