Título: Carreira brilhante e amizade com Bush
Autor: José Meirelles Passos
Fonte: O Globo, 17/11/2004, O Mundo, p. 32

Dificilmente a influência de Condoleezza Rice dentro da Casa Branca de George W. Bush pode ser superestimada. Apontada ontem para substituir Colin Powell na Secretaria de Estado dos EUA, tornando-se a primeira mulher negra a ocupar este cargo, ela é a integrante do primeiro escalão do governo com mais extensa carreira acadêmica. Ao mesmo tempo, sua quase onipresença nas decisões de Bush se deve, segundo analistas, mais à amizade que liga os dois do que a suas credenciais técnicas.

Filha de pais jamaicanos, ambos professores universitários, Condoleezza nasceu no Alabama em 1954 e passou sua infância durante o período da segregação racial. Quando tinha 9 anos, um ataque a bomba da Ku Klux Klan a uma igreja matou quatro crianças, uma delas uma amiga que estudava na mesma turma de Condoleezza.

Ela teve uma infância de classe média e entrou na faculdade para estudar piano clássico ¿ seu nome foi inventado pela mãe, também pianista, que modificou levemente a expressão musical con dolcezza (com doçura). Porém, ao conhecer o professor Josef Kordel, foi atraída para o curso de relações internacionais. Kordel era o pai de Madeleine Albright, que no futuro seria a primeira mulher a ocupar a Secretaria de Estado dos EUA ¿ Condoleezza será a segunda.

Condi, como é conhecida pelos amigos, entre eles a família Bush, seguiu carreira e se especializou em União Soviética, conseguindo os títulos de mestre e doutora. Depois de se formar, entrou para o governo na Presidência de Ronald Reagan e se tornou diretora de Assuntos Soviéticos e da Europa Oriental do Conselho de Segurança Nacional durante o governo de George Bush pai. Destacou-se no período da queda do Muro de Berlim, quando convenceu o presidente a apoiar a reunificação da Alemanha. Bush chegou a apresentá-la ao presidente soviético Mikhail Gorbachov: ¿É ela quem me diz tudo o que sei sobre a União Soviética¿, disse Bush na ocasião.

Durante a campanha de 2000, ela guiou o então candidato Bush, um novato em assuntos internacionais. Forjaram uma grande amizade e foi convidada para ser conselheira de Segurança Nacional. No cargo, ela se identificou com os falcões do governo, como o secretário de Defesa, Donald Rumsfeld, e o vice-presidente Dick Cheney, isolando Powell. Defensora da política de ataques preventivos, apoiou as guerras do Afeganistão e do Iraque. Depois da recusa de grande parte da Europa de participar da invasão, aconselhou o presidente: ¿Deve-se perdoar os russos, ignorar os alemães e castigar os franceses.¿

Ela também foi muito criticada por não ter dado importância suficiente aos alertas sobre terror antes do 11 de Setembro e ter se recusado a depor na comissão que investigou o ataque.