Título: BRASIL AJUDARIA EUA A DIALOGAR COM MORALES
Autor: Helena Chagas
Fonte: O Globo, 06/01/2006, O Mundo, p. 27

Brasília rejeita papel formal, mas se dispõe a tranqüilizar Washington sobre novo líder boliviano

BRASÍLIA. A Casa Branca está mandando a Brasília nos próximos dias um emissário para conversar sobre as preocupações dos Estados Unidos com a eleição de Evo Morales na Bolívia e pedir ajuda brasileira na mediação do diálogo com governos de esquerda da região. O secretário de Estado assistente para Assuntos do Hemisfério Ocidental, Tom Shannon, será recebido pelo chanceler Celso Amorim, que, embora recuse o papel formal de intermediário entre EUA e Bolívia, a exemplo do que ocorre em relação à Venezuela, afirma que o Brasil está disposto a ajudar. Para isso, Brasília já trabalha na inclusão plena da Bolívia no Mercosul para facilitar o diálogo.

- Podemos ajudar, respeitando a soberania e sem nos imiscuirmos em questões internas desses países - disse.

Na verdade, o governo brasileiro deverá tranqüilizar os americanos em relação ao novo presidente boliviano. Além da radicalização política que pode vir a representar a aliança Chávez-Evo Morales, os EUA temem que a eleição do cocaleiro facilite os movimentos do narcotráfico na região.

- Nós podemos ajudá-los (os EUA) a entender a realidade. Às vezes há certas avaliações equivocadas sobre as esquerdas e o problema das drogas, de que Morales apoiaria o narcotráfico. Podemos mostrar que isso não é verdade - explicou o ministro.

Amorim não considera que a movimentação do presidente eleito da Bolívia, que esteve em Cuba e na Venezuela anunciando a formação de um chamado "eixo do bem" na América Latina, vá resultar em alguma mudança na correlação de forças ou na "esquerdização" do continente. Ele acha que o exemplo do Brasil, que também elegeu um líder de esquerda, é importante.