Título: INSS e Caixa na mira da CPI
Autor: Bernardo de la Peña
Fonte: O Globo, 07/01/2006, O País, p. 3

Comissão deve ouvir dirigentes dos dois órgãos públicos suspeitos de beneficiar o BMG

Opresidente da CPI dos Correios, senador Delcídio Amaral (PT-MS), defendeu ontem a convocação de dirigentes da Caixa Econômica Federal, do INSS e do BMG para explicar os negócios feitos pelos dois órgãos estatais com o banco mineiro, que concedeu empréstimos para o empresário Marcos Valério. O dinheiro abasteceu contas de políticos aliados do governo. Os requerimentos de convocação devem ser votados pela CPI até 18 de janeiro.

Relatório do Tribunal de Contas da União (TCU) afirma que o INSS beneficiou o BMG ao firmar um convênio para que o banco pudesse emprestar dinheiro a aposentados com desconto em folha ¿ as consignações ¿ e que a Caixa favoreceu a instituição num negócio que rendeu ao banco mineiro pelo menos R$119 milhões.

¿ Acho necessário ouvir Caixa, BMG e INSS ¿ disse Delcídio.

Vice-presidente da Caixa ataca senador

O vice-presidente de Finanças da Caixa, Fernando Nogueira, reagiu ontem atacando o senador Álvaro Dias (PSDB-PR), integrante da CPI dos Correios e autor do pedido para que o TCU investigue o negócio entre a CEF e o BMG, e criticou o trabalho do tribunal. Para ele, o senador quebrou o decoro parlamentar ao divulgar informações do relatório preliminar do TCU:

¿ O próprio presidente do TCU manifestou por duas vezes que o documento preliminar não poderia ter sido divulgado.

Dias se defendeu atacando a Caixa:

¿ Não fui eu quem divulgou o relatório. Quebra de decoro é praticar improbidade administrativa na maior instituição financeira da América Latina, que tem função social relevante e não poderia ser incluída no maior esquema de corrupção do Brasil. A Caixa não pode ser uma fonte de abastecimento do valerioduto.

Nogueira disse ainda que a Caixa está disposta a prestar qualquer esclarecimento à CPI. Segundo ele, o relatório do TCU mostra total desconhecimento da área econômica e financeira e tem erros de interpretação, porque as operações com o BMG foram, diz, normais e legais. O negócio daria um resultado de R$345 milhões para a Caixa, mas Dias argumenta que o lucro poderia ter sido maior.

Em notas divulgadas ontem, a Federação Brasileira de Bancos (Febraban) e a Associação Brasileira de Bancos (ABBC) defenderam as operações.

¿A cessão de crédito contribui para aumentar a oferta de crédito ao público com menores custos finais para os tomadores. O mercado brasileiro tem sido muito ativo na realização de tais operações, sendo que as mencionadas no noticiário conformam-se à prática do mercado amplamente seguida pelos agentes financeiros¿, diz a nota da Febraban. ¿É perfeitamente normal e justo que instituições financeiras façam uso deste instrumento nos seus negócios¿, diz a nota da ABBC.

CPI vai aos EUA checar conta de Duda

Na última semana de janeiro, três parlamentares da CPI dos Correios irão aos EUA em busca de informações sobre a conta do publicitário Duda Mendonça na agência do Bank Boston de Miami. Duda recebeu cerca de R$10 milhões de Valério. A CPI quer cruzar os dados apresentados pelo publicitário com a quebra do sigilo bancário para entender as movimentações feitas por Valério no exterior.

Em Washington, os parlamentares devem se reunir com representantes do Departamento de Justiça e, em Nova York, com promotores que quebraram o sigilo da conta e passaram as informações ao Ministério da Justiça brasileiro, que não repassou à CPI.

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