Título: AJUDA PROVIDENCIAL
Autor:
Fonte: O Globo, 07/01/2006, Opinião, p. 6

Oanúncio, por Márcio Thomaz Bastos, de que a Polícia Federal investigará o uso de caixa dois nas eleições atraiu críticas duras da oposição, por identificar na iniciativa do ministro da Justiça o risco do uso de um braço do Estado com objetivos partidários. De fato, um dos grandes perigos que as sociedades correm é a colocação de instrumentos públicos a serviço de interesses privados ¿ de governos, governantes e partidos.

Grandes curtos-circuitos políticos são provocados quando essa junção maligna ocorre. O mais recente caso típico é o escândalo do valerioduto, em cujo pano de fundo destaca-se o aparelhamento de segmentos da máquina pública por petistas e aliados. Portanto, para a boa saúde do sistema democrático, o Estado precisa ser imune a manipulações de governos. O Estado é apenas o meio pelo qual governantes executam planos de ação aprovados pelos eleitores.

A PF constitui um instrumento estratégico para coibir crimes definidos como federais pela legislação (tráfico, contrabando etc.). Trata-se de arma eficaz também contra a corrupção.

O ministro tem se preocupado com os crimes de colarinho branco cometidos na política. E ao contrário até do seu chefe, o presidente Lula, considera o caixa dois ¿coisa de bandido¿. Tem razão.

O medo compreensível da oposição de que a PF venha a ser usada apenas contra adversários do PT não pode, portanto, justificar que a Polícia Federal fique manietada. Por isso, a iniciativa de Thomaz Bastos, para que tenha conseqüências positivas, precisa estar cercada de alguns cuidados. Ter, por exemplo, o acompanhamento da Justiça Eleitoral e do Ministério Público.

A PF já demonstrou competência em atuar nesses desvãos do mundo político. No início de 2002, foi acusada de atuar a soldo tucano ao descobrir dinheiro vivo, e não declarado, nos escritórios de uma empresa de Jorge Murad e mulher, a então governadora do Maranhão Roseana Sarney, na época aspirante a candidata à Presidência da República. O caso custou o distanciamento definitivo do PFL da candidatura de José Serra ---- e a pulverização das aspirações de Roseana. Mas a origem daquele dinheiro é nebulosa até hoje.