Título: ÁLCOOL: GOVERNO QUER PREÇO FIXO
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 07/01/2006, Economia, p. 21

Objetivo do acordo seria descartar redução da mistura na gasolina

BRASÍLIA e RIO. O governo federal quer assinar com os produtores de álcool um acordo nas mesmas bases do firmado em 2003, quando houve a fixação do custo do litro do combustível em um real no atacado, em meio a uma escalada de preços nas bombas. Hoje, o valor do produto está em R$1,09 por litro nas distribuidoras. Segundo o secretário-executivo do Ministério de Minas e Energia, Nelson Hubner, se houver entendimento, será possível descartar a redução de 25% para 20% da mistura de álcool anidro à gasolina ¿ medida que desagrada os empresários. O Ministério da Agricultura, porém, insiste que as medidas serão complementares.

¿ Se não houver acordo com os usineiros, a opção será reduzir a mistura de álcool à gasolina ¿ afirmou Hubner, momentos antes de participar de uma reunião, no Ministério da Fazenda, com o ministro interino, Murilo Portugal, e técnicos da Agricultura.

O acordo de preço faz parte de um pacote de medidas emergenciais que serão apresentadas, na quarta-feira, aos empresários do setor sucroalcooleiro. O preço a ser fixado agora ainda está sendo negociado. Mas os técnicos avisam que dificilmente um acordo seria firmado em torno de um valor que represente o um real de dois anos atrás mais a correção da inflação, o que resultaria em cerca de R$1,22. Em 2003, o governo também concordou em aumentar a mistura de 20% para 25% e liberou R$500 milhões para financiar estoques de álcool.

Redução da mistura obrigaria governo a baixar a Cide

Os técnicos dos ministérios da Fazenda e da Agricultura passarão o fim de semana fazendo contas e analisando alternativas. Uma das tarefas da área econômica é descobrir o impacto da redução da mistura de 25% para 20% ¿ a hipótese mais provável do pacote emergencial ¿ no preço da gasolina, que aumentaria com a medida e obrigaria a Fazenda a baixar a Cide (contribuição cobrada sobre o consumo do combustível), que não incide sobre o álcool.

A diminuição da quantidade de anidro misturado à gasolina permitiria uma sobra de cem milhões de litros de álcool por mês nos estoques, o que pode reduzir a pressão sobre os preços. Os usineiros preferiram não comentar a proposta de redução do preço do álcool. A União da Indústria Canavieira de São Paulo (Unica) divulgou uma nota na qual diz acreditar que haverá consenso na negociação com as autoridades federais.

Para Plínio Nastari, consultor da Datagro, não faz sentido voltar a um preço de 2003 sem levar em conta a inflação do período, medida pelo IGP-DI. Nastari também criticou a ameaça de se reduzir a mistura:

¿ Com os preços da gasolina e do petróleo elevados, é interessante para o Brasil substituir ao máximo a gasolina, mesmo que estejamos próximos da auto-suficiência.

Desde ontem, os fabricantes de anidro são obrigados a usar corante laranja, para diferenciar o produto do álcool hidratado, e, assim, evitar a adulteração. Para saber se o álcool é de boa qualidade, basta verificar se o combustível no reservatório que fica ao lado das bombas está transparente. Segundo a Agência Nacional do Petróleo (ANP), a adição do corante não pode ser justificativa para aumento de preços de combustíveis.

COLABORARAM Gustavo Fernandes, do Extra, e Martha Beck