Título: O PREÇO SALGADO DO AÇÚCAR
Autor: Mariza Louven
Fonte: O Globo, 07/01/2006, Economia, p. 21

Aumento da demanda pelo produto pode ajudar a pressionar cotação de combustível

Ademanda mundial por açúcar será pelo menos sete milhões de toneladas maior este ano, contribuindo para sustentar a alta dos preços do álcool combustível e de tudo que é derivado da cana. Como a matéria-prima de açúcar e álcool é a mesma, o aumento da demanda do primeiro pode significar menos oferta do combustível, e vice-versa. Se por um lado o Brasil deverá faturar mais de US$5,8 bilhões com exportações de açúcar bruto e refinado em 2006 ¿ quase 50% mais do que em 2004, segundo previsão da Associação de Comércio Exterior do Brasil (AEB) ¿ por outro os preços estão subindo no mercado interno e podem pressionar a inflação.

¿ Não digo que haverá uma explosão dos preços do álcool, mas há espaço para sustentação ¿ afirmou o coordenador de análises de preços da Fundação Getulio Vargas (FGV), Salomão Quadros.

O açúcar cristal, por exemplo, aumentou 10,91% para o consumidor em 2005, quando o IGP-DI registrou sua menor variação histórica, de 1,22%. Segundo Quadros, a aceleração ocorreu no fim do ano: o produto ficou 3,23% mais caro em novembro e 5,18% em dezembro. Já os preços do álcool combustível ao consumidor começaram a subir no segundo semestre, depois de seis meses de deflação. Chegaram ao fim do ano com alta acumulada de 3,84%.

No mercado externo, o movimento também foi ascendente: a cotação média do açúcar começou o ano de 2005 em US$189,89 a tonelada e terminou em US$248,60. A do álcool partiu de US$240,91, em janeiro, e foi para US$335,27 em dezembro.

¿ A cotação do açúcar em bruto, no mercado futuro, alcançou US$322 na primeira semana de janeiro ¿ complementa o vice-presidente da AEB, José Augusto de Castro.

O novo boom do setor sucroalcooleiro está estimulando a realização de investimentos na produção. O consultor Plínio Nastari, da Datagro, diz que há 51 novos projetos de usinas em implantação no país. A capacidade de moagem, de 440 milhões de toneladas de cana-de-açúcar por ano, passará a 510 milhões de toneladas, mas só daqui a três anos.

Enquanto a oferta não cresce, a expectativa é de sustentação dos preços de açúcar e álcool nos próximos 12 meses. Até porque ainda estão abaixo do valor real (descontada a inflação) de três anos atrás, acrescentou Nastari. Segundo ele, os preços devem desacelerar após o fim da entressafra.

¿ Mas mantendo-se em níveis remuneradores para os produtores brasileiros, que têm os menores custos de produção do mundo, mesmo com o câmbio valorizado ¿ ressaltou.

A demanda efetiva por açúcar aumenta cerca de três milhões de toneladas por ano em função do crescimento vegetativo da população mundial. Em 2006, haverá ainda a redução de quatro milhões de toneladas exportadas pela União Européia ¿ os países deste bloco se comprometeram a reduzir as vendas externas a partir de maio, depois que o Brasil ganhou uma ação, no âmbito da Organização Mundial do Comércio (OMC), contra os subsídios aplicados pelos europeus.

Castro, da AEB, lembra que este ano o Japão vai passar a adicionar 3% de álcool à gasolina, aumentando a demanda pelo produto, cujos preços vêm subindo em paralelo aos da gasolina. Além disso, o Brasil aumentou a sua produção de carros bicombustível, que representaram 70,9% das vendas de automóveis em novembro.

As perspectivas são boas também para os fabricantes de balas, confeitos e chocolates, produtos que figuram no ranking dos 50 principais itens de exportação do país, segundo a publicação ¿Análise Anuário de Comércio Exterior 2005-2006¿. As vendas externas desses produtos chegaram a US$318 milhões em 2005, 11% a mais do que no ano anterior, estima o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Chocolate, Cacau, Amendoim, Balas e Derivados (Abicab), Getúlio Ursulino Netto. Os doces e chocolates brasileiros já estão presentes em 144 países e devem entrar este ano na Rússia.

¿ O setor externo já não é só uma coisinha a mais para nós ¿ diz ele.

O diretor-superintendente da Embaré, Haroldo Antunes, informa que sua empresa exportou um volume 12% maior de caramelos no ano passado e poderá expandir as vendas externas em 30% este ano, dependendo do câmbio. Atualmente, cerca de 45% do faturamento da empresa, no segmento de caramelos, vêm do exterior.