Título: RISCO-PAÍS CAI PARA 284 PONTOS, NOVO RECORDE
Autor: Patricia Eloy
Fonte: O Globo, 07/01/2006, Economia, p. 23

Captação de US$1 bilhão da Vale do Rio Doce faz dólar recuar para R$2,282. Bolsa tem patamar histórico

Os principais indicadores financeiros brasileiros atingiram ontem novos recordes, influenciados pelo número de postos de trabalho criados nos Estados Unidos. O indicador ficou bem abaixo das expectativas, aumentando a perspectiva de que, em breve, o banco central dos EUA interrompa o ciclo de elevação dos juros. Isso beneficiaria mercados emergentes, como o Brasil, porque elevaria o volume de recursos investidos nesses países. No mercado de câmbio, a captação de US$1 bilhão pela Vale do Rio Doce ¿ a maior já feita por uma empresa brasileira no exterior ¿ fez o dólar recuar 0,22%, para R$2,282 para venda.

O risco-Brasil, indicador da confiança dos investidores estrangeiros no país, atingiu ontem 284 pontos centesimais, o que representa queda de 4,38% em relação à véspera. É o menor nível desde que o indicador começou a ser calculado, em abril de 1994. Com isso, o Brasil caiu uma posição na lista das nações consideradas mais arriscadas no mundo: ficou atrás de Equador (626 pontos), Nigéria (495), Argentina (461), Venezuela (295) e Filipinas (294).

Global 40 chega a 131% do valor de face

O Global 40, título brasileiro mais negociado no exterior, também bateu recorde histórico: no fim do dia, era negociado a 131,12% do valor de face, em alta de 1,02%. Para se ter uma idéia, em meados de dezembro, o papel estava cotado a 125% do valor de face. Já a Bolsa de Valores de São Paulo (Bovespa) atingiu o terceiro recorde em pontos do ano: 35.475, uma valorização de 1,54%.

O clima positivo foi deflagrado pela divulgação dos dados no mercado de trabalho americano em dezembro. No mês passado, foram criados 108 mil novos postos, número bem inferior à projeção dos analistas, que era de 150 mil a 200 mil novas vagas. Com o dado, o mercado passou a apostar mais forte numa interrupção no ritmo de alta dos juros americanos, o que estimularia a economia do país.

No mercado de câmbio, a captação da Vale do Rio Doce ofuscou duas novas atuações do Banco Central (BC). A empresa levantou US$1 bilhão junto a investidores estrangeiros, por meio de títulos com vencimento em dez anos. A expectativa de que os recursos entrem no mercado estimulou a venda de moeda. O valor é expressivo, tendo em vista que o volume negociado diariamente no mercado de câmbio é de cerca de US$1,5 bilhão.

Os investidores receberão 6,254% ao ano pelos papéis e a demanda pelos títulos superou em 2,5 vezes a oferta. Os compradores foram, segundo a Vale, 175 investidores da América Latina, EUA, Europa e Ásia. Com a operação, a companhia reduz o custo médio e alonga o prazo de suas dívidas.

Na Bolsa, as ações da Acesita foram as que mais subiram no dia. Os papéis avançaram 9,56% após a notícia de que a Arcelor comprará todas as ações ordinárias (com direito a voto) da companhia e pelo menos um terço de todos os papéis preferenciais (com prioridade no recebimento de dividendos) em circulação. A empresa pagará R$32,02 por cada ação.

O papel da Caemi também se destacou no pregão: subiu 1,84%. Foi a terceira ação mais negociada do dia, com um volume de negócios de R$117,2 milhões, 5,41% do total da Bolsa. A alta foi motivada pela compra da Rio Verde Mineração, de Minas Gerais, pela companhia, por US$45 milhões.

Fundos encerram 2005 com patrimônio de R$718 bi

A indústria de fundos de investimentos brasileira encerrou o ano passado com uma captação líquida de R$20,3 bilhões, de acordo com dados divulgados ontem pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). O patrimônio líquido do setor terminou 2005 em R$718 bilhões, o que representa um crescimento real de 3,44% em relação a dezembro de 2004, quando o patrimônio era de R$591 bilhões.

O segmento que mais captou foi o de fundos de previdência, que teve uma captação, no ano passado, de R$12 bilhões, ou seja, um crescimento de 33,86% em relação a 2004. Os fundos de investimento em direito creditório captaram R$7,3 bilhões ¿ expansão de 160% ¿ e os fundos DI, que acompanham a trajetória das taxas de juros, atraíram R$5,5 bilhões em novos recursos, 5,04% a mais que no ano anterior. Os fundos cambiais foram os que mais sofreram resgates: perderam R$2,3 bilhões em 2005, uma queda de captação de 47,77% em relação a 2004.

De acordo com os dados da Anbid, a aplicação mais rentável do ano passado foi o PIBB, fundo que aplica em ações da carteira do BNDESPar, com ganhos de 37,98%. A instituição não considerou as variações do FGTS-Petrobras e do FGTS-Vale no ano.