Título: `Netanyahu tem maiores chances de ganhar as eleições¿
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Fonte: O Globo, 07/01/2006, O Mundo, p. 26
Durante anos conselheiro de Ariel Sharon, Salman Shoval diz ao GLOBO, por telefone, que, com sua ausência, o Likud ¿ partido pelo qual Shoval se candidata ao Parlamento ¿ voltará a ser favorito nas eleições. Para ele, porém, Benjamin Netanyahu deve se inclinar politicamente para o centro, pois ¿os israelenses mostraram (ao apoiarem o novo partido de Sharon) que anseiam pelo centro, e não por extremos¿.
O partido de Sharon (Kadima) tem chances de continuar existindo?
SALMAN SHOVAL: O partido que Sharon fundou tem poucas condições de continuar existindo sem ele. As pessoas que tinham intenção de votar no Kadima não votarão mais sem Sharon. O Kadima é o partido de um homem só.
Quem vai lucrar com isso? O Likud com Netanyahu ou o Partido Trabalhista de Amir Peretz?
SHOVAL: No momento há um consenso entre todos os partidos de não falarmos sobre as consequências políticas do fim da era Sharon. Mas acho que esse fim vai fazer com que os dois partidos, o Likud com Netanyahu e o Partido Trabalhista com Peretz, movimentem-se um em direção ao outro para voltarem a ser um novo centro da política. Os israelenses mostraram que anseiam pelo centro, e não por extremos, e por isso apoiaram o novo partido de Sharon. Nas próximas semanas, Netanyahu vai iniciar um discurso menos direcionado à ala direita e Peretz também vai procurar atrair o centro. O resultado é que o que restar do partido de Sharon vai ser muito menor do que parece hoje.
E quem ganhará as eleições?
SHOVAL: Na minha opinião Netanyahu tem maiores chances de ganhar as eleições. Mas é possível ainda uma mudança nas próximas semanas.
Se Netanyahu voltar a ser primeiro-ministro, manterá a linha dura ou vai prosseguir com o programa de desocupar regiões palestinas?
SHOVAL: É muito difícil dizer qual seria a política de Sharon para os palestinos no futuro, porque ele sempre foi um pragmático, e não um político movido por uma ideologia. Sua política com os palestinos seria provavelmente mais algumas vezes adaptada à situação real para perseguir os objetivos vistos por ele como importantes: em primeiro lugar, a segurança de Israel e, além disso, da posição de Israel em parte da Cisjordânia. Acho que Netanyahu seguiria a mesma política, mas eventualmente com algumas diferenças.
Quais seriam as diferenças?
SHOVAL: Sharon via como uma vantagem para Israel fazer algumas concessões, mesmo que de forma unilateral, porque do lado palestino não há ainda um líder que assuma um compromisso num acordo de paz baseado em reciprocidade. Por isso Sharon admitia decisões unilaterais, como a retirada da Faixa de Gaza. Mas não se sabe se prosseguiria com essa política na Cisjordânia. Netanyahu sempre teve uma posição clara contra concessões unilaterais. Mas acho que ele também procuraria decidir de acordo com a situação.