Título: CAMPANHA DE TERROR ALARMA XIITAS IRAQUIANOS
Autor:
Fonte: O Globo, 07/01/2006, O Mundo / Ciencia e Vida, p. 28

Zawahri, número 2 da al-Qaeda, diz que Bush deve reconhecer que foi derrotado no Iraque e no Afeganistão

BAGDÁ. Alvos preferenciais dos homens-bomba que diariamente espalham terror e morte no Iraque, os xiitas estão alarmados e divididos entre dar uma resposta militar aos ataques e o comedimento na reação para evitar jogar o país numa guerra civil declarada entre eles e os sunitas.

Ontem, nas orações de sexta-feira, pelo menos um clérigo em Bagdá pediu que os xiitas reajam militarmente, um dia após violentos atentados em que mais de 120 pessoas morreram, 45 delas entre dois santuários xiitas em Karbala.

Brandindo um fuzil AK-47 numa das mãos e socando o ar com a outra, o imã Hazim Araji dirigiu-se irado a uma multidão de cinco mil fiéis na mesquita de Khadimiya.

¿ Por quanto tempo vamos ficar em silêncio? Os terroristas são tratados com indulgência no Iraque! ¿ trovejou.

Representante de Sistani diz que não haverá guerra civil

Em Karbala, a revolta com os ataques suicidas é grande.

¿ Os sunitas estão por trás desse ato criminoso ¿ acusou o comerciante Jabbar Nasr. ¿ Apelo a nossas instituições religiosas xiitas a nos darem permissão para retaliar.

Os principais clérigos e políticos xiitas, no entanto, continuam exortando a população a ter paciência e fé no próximo governo.

¿ A guerra civil que estão procurando não vai acontecer. Os iraquianos devem ser mais cuidadosos, mais vigilantes e rejeitar qualquer coisa que promova a luta interna ¿ disse Ali al-Fatlawi, representante do grande aiatolá Ali al-Sistani, principal clérigo xiita do país.

Por sua vez, Hadi al-Ameri, chefe das Brigadas Badr, a milícia xiita aliada a um dos mais poderosos partidos políticos do país, também pediu calma, mas questionou a capacidade dos líderes iraquianos de manterem o país longe de uma guerra civil por muito tempo.

¿ As pessoas estão prestes a explodir ¿ advertiu. ¿ A opinião pública xiita tem estado obediente ao clero e a seus líderes, mas a questão é: por quanto tempo?

Ontem, o comando militar dos Estados Unidos anunciou que 11 soldados e fuzileiros americanos morreram em ataques a bomba ou a tiros no Iraque na quinta-feira, tornando o dia um dos mais sangrentos para os invasores desde o início da ocupação do país em março de 2003. Sete soldados perderam a vida em duas explosões à beira de estrada em Bagdá, cinco numa patrulha.

Dez corpos encontrados em usina de purificação

Dois fuzileiros foram mortos a tiros em Faluja e um outro, junto com um soldado na explosão de um homem-bomba numa fila de recrutamento em Ramadi. Num outro episódio, dez cadáveres com balas na cabeça foram encontrados ontem perto de uma usina de purificação de água no sudeste de Bagdá.

Em mensagem num vídeo divulgado pela rede de TV qatariana al-Jazeera, o número dois da al-Qaeda, Ayman al-Zawahri, disse que os planos anunciados pelo presidente George W. Bush de uma retirada parcial de tropas americanas do Iraque configuram a derrota dos Estados Unidos. Na quarta-feira, Bush reiterou sua promessa de novembro de que o número de soldados americanos em solo iraquiano iria diminuir após as eleições de 15 de dezembro.

¿ Bush, você tem de confessar que foi derrotado no Iraque, no Afeganistão e logo será na Palestina ¿ provocou Zawahri no vídeo.

A al-Jazeera disse que a mensagem foi gravada em dezembro último. Já o líder da al-Qaeda, Osama bin Laden, desde outubro de 2004 não é visto em vídeo.