Título: Desgaste faz aumentar o número de políticos que devolvem dinheiro extra
Autor: Isabel Braga e Maria Lima
Fonte: O Globo, 08/01/2006, O País, p. 4

Até a noite de sexta-feira, eram 62 desistências registradas na Câmara

BRASÍLIA. Com a exposição na mídia, especialmente na televisão, da lista dos deputados que decidiram devolver ou doar os dois subsídios extras da convocação extraordinária cresce a cada dia o número dos que resolvem aderir à medida. Até a noite de sexta-feira, a assessoria da Câmara registrava 62 desistências. No Senado, quatro recusaram o pagamento e dois optaram por doar. A maioria, porém, doou o dinheiro a entidades sociais de seus redutos eleitorais.

Houve deputado que optou por doar a uma ou duas entidades. Outros distribuíram os R$25.600 (brutos) entre dezenas de entidades, dividindo o bolo e ganhando, assim, a simpatia de mais eleitores. Embora fora de Brasília nos últimos dias, muitos parlamentares ¿ vendo a lista crescer e ser divulgada diariamente nos meios de comunicação ¿ preocuparam-se em distribuir, nos comitês de imprensa ou por e-mail, comprovantes da devolução ou da doação do dinheiro.

Pouco mais de 30 desitiram até 31 de dezembro

Até o fim do ano, a lista era de pouco mais de 30 parlamentares. Tanto que só 27 de fato evitaram que o dinheiro da primeira parcela da ajuda de custo (R$12.847,20) caísse em suas contas bancárias. Isso porque a lista de pagamento foi enviada ao banco no dia 27 de dezembro e o depósito feito no dia 30. Destes 27 deputados, 19 devolveram o dinheiro à Câmara e o restante indicou entidades sociais para que o pagamento fosse transferido.

Os outros requerimentos abrindo mão do pagamento ou indicando entidades para a doação chegaram depois do prazo. Isso obrigou muitos parlamentares a procurar meios de devolver o dinheiro aos cofres da Câmara.

¿ Acho que esse salário extra é legal, está previsto na lei, mas não é ético ¿ justifica a deputada Fátima Bezerra (PT-RN), que doou o dinheiro a entidades, como já tinha feito na convocação passada.

A segunda parcela do adicional será depositada no segundo dia útil após 20 de fevereiro. Mas apenas parlamentares que tiverem comparecido a, no mínimo, dois terços das sessões da convocação extraordinária (que começam só esta semana), têm direito ao pagamento.

Aldo Rebelo avisa que vai doar dinheiro

O presidente da Câmara, Aldo Rebelo (PCdoB-SP), disse que irá doar o dinheiro, mas ainda não escolheu as entidades que serão beneficiadas.

Um dos integrantes do grupo Pró-Congresso, o deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), afirma que a tática do movimento ¿ já que o debate racional esgotou-se, argumenta ¿ será a do constrangimento. Ele lembra que o fato de decidir rejeitar a convocação foi condenado por muitos colegas, que o acusaram de provocar mais constrangimento aos deputados.

¿ A devolução do pagamento foi o primeiro teste e o projeto que acaba com esse pagamento terá que ter votação no painel. Vamos saber quem é quem. Não é crime receber em dobro pela convocação, mas o eleitor tem direito de saber quem defende isso e quem não defende ¿ afirma Gabeira.

O deputado avisa que o movimento Pró-Congresso, que tem a adesão de 150 deputados de vários partidos, vai trabalhar para conduzir o confronto sadio nos projetos que reduzem o recesso parlamentar e que acabam com o pagamento extraordinário no caso de convocação do Congresso. Pretende expor ¿ via internet e mídia ¿ de que forma cada parlamentar está se comportando nessas duas matérias.

Gabeira também diz estar otimista, principalmente considerando que 2006 é ano de eleição.

¿ Não é que eu tenha esperança, mas em ano eleitoral os ventos sopram a favor de quem quer moralizar. Se não conseguir aprovar essas duas matérias e também as cassações de deputados, o trabalho de limpeza completa será feito pela opinião pública ¿ acrescenta o deputado.