Título: CÚPULA TEME FALTA DE UNIDADE
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 09/01/2006, O País, p. 3
Lançamento surpreende tucanos, que apostavam no consenso
BRASÍLIA. A decisão do governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), de antecipar o lançamento de sua candidatura à sucessão presidencial acendeu a luz amarela na cúpula tucana. A maior preocupação do PSDB passou a ser a manutenção da unidade do partido. O temor é que uma disputa acirrada com o prefeito de São Paulo, José Serra, pela vaga de presidenciável deixe seqüelas internas, o que seria prejudicial numa campanha.
¿ Entendo o gesto de Alckmin como uma manifestação de desejo de ser candidato, o que é positivo. Agora, é preciso ter cuidado. O mais importante é que o partido saia unido deste processo de escolha ¿ alerta o secretário-geral do PSDB, deputado Eduardo Paes (RJ).
Tanto cuidado da cúpula tucana não é por acaso. Havia um acordo interno dos principais caciques do partido de que o presidenciável tucano seria escolhido por consenso. Desde o fim do ano passado, o entendimento era de que o martelo seria batido pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, juntamente com o senador Tasso Jereissati (PSDB-CE), presidente do partido, o governador de Minas Gerais, Aécio Neves, além de Serra e Alckmin.
Os tucanos já tinham indicado Fernando Henrique como uma espécie de juiz do processo, que usaria as pesquisas de opinião pública para ajudar na escolha do candidato. A percepção de integrantes do comando do PSDB é de que Alckmin percebeu que Serra já tinha praticamente consumado sua candidatura no partido. Por isso, decidiu ontem, num ato ousado, sair pré-candidato.
Decisão deverá ser tomada até março
O maior temor é que esse gesto acabe provocando uma prévia sangrenta no PSDB, o que enfraqueceria o partido. Por isso, já existe uma decisão de escolher até março o candidato tucano. O secretário-geral Eduardo Paes diz que a decisão tem que ocorrer antes de abril para que haja tranqüilidade no legenda e segurança entre os pré-candidatos.
¿ A decisão de quem será o candidato do PSDB será tomada antes do prazo de desincompatibilização, o que vai garantir tranqüilidade ao processo interno ¿ disse Paes.
As declarações enfáticas de Alckmin surpreenderam tucanos de todas as tendências, inclusive os que defendem a candidatura do governador. Também há consenso de que ele usou ontem sua última cartada para tentar impor sua candidatura, mas que isso pode resultar em efeito contrário. Porém, ontem os tucanos mais próximos de Serra foram cautelosos com o anúncio da decisão de Alckmin.
¿ A decisão da escolha do candidato será partidária. E no caso do PSDB, como temos bons candidatos, o ideal é que seja feita de forma consensual, colegiada e no tempo correto ¿ observa o ex-líder do PSDB, deputado Jutahy Junior (BA).
A constatação no partido é de que o prefeito José Serra largou na frente e já conseguiu conquistar o apoio dos tucanos em quase todos os estados. O principal argumento de aliados de Serra é que o prefeito, por estar na frente nas pesquisas de opinião, teria condições de garantir melhor desempenho eleitoral dos candidatos do PSDB nos estados durante o primeiro turno.
Segundo um graduado tucano com simpatia pela candidatura de Serra, a decisão de Alckmin não irá constranger o partido para fazer dele o candidato. O consenso na legenda é de que a decisão do PSDB será tomada de forma racional. Portanto, Alckmin agora depende da força pessoal e principalmente de conquistar apoios que Serra já obteve nos estados.