Título: O tudo ou nada de Alckmin
Autor: Flávio Freire
Fonte: O Globo, 09/01/2006, O País, p. 3
Governador anuncia saída para concorrer à Presidência e pode antecipar gesto em 2 meses
Numa cartada para tentar impor seu nome como candidato do PSDB à Presidência, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, disse ontem que irá deixar o cargo antes mesmo da data-limite para a desincompatibilização, 31 de março. A interlocutores do Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, Alckmin não descarta uma renúncia antecipada em até dois meses, já no início de fevereiro, o que forçaria uma tomada de posição por parte de José Serra, que ainda estuda o melhor momento para anunciar sua eventual saída da Prefeitura de São Paulo para concorrer à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
¿ Meu nome está à disposição do partido. Pela lei (eleitoral), quem quiser ser candidato e estiver no governo até dia 2 de abril está inelegível. Então vamos sair antes ¿ disse Alckmin, depois de participar, ao lado de pais e alunos, de um programa para pintar escolas estaduais nas férias. A data-limite para a saída é 31 de março.
Alckmin desqualificou as pesquisas como instrumento para aferir uma eventual preferência por Serra:
¿ Essas pesquisas com tanta antecedência, esquece, esquece... Isso aí é tudo fotografia do passado, não tem nada a ver com o futuro.
Assessores de José Serra informaram ontem que o prefeito não daria declarações à imprensa.
Dentro do PSDB as palavras do governador soam como a forma encontrada por ele para mostrar ao eleitor que tem mais disposição para a disputa do que o próprio Serra. Para dirimir dúvidas sobre sua intenção de concorrer à Presidência, Alckmin descartou até uma disputa ao Senado. Sequer as pesquisas que o apontam como a figura política capaz de derrotar o senador petista Eduardo Suplicy, tido como o mais popular candidato ao Senado em São Paulo, faz com que ele desista de sua empreitada para ¿trabalhar pelo Brasil¿.
Tucano descarta vaga no Senado
Perguntado se abriria mão de sua pré-candidatura presidencial para concorrer ao Senado, foi enfático:
¿ Não, sou candidato para trabalhar pelo Brasil e gosto do Executivo.
Como já havia deixado claro que também não tem interesse em disputar uma vaga na Câmara dos Deputados, Alckmin parte agora para o ¿tudo ou nada¿.
Em meio às especulações sobre o candidato tucano que irá disputar o governo de São Paulo, Alckmin, que não pode ser candidato novamente, abriu um leque de opções, mas deu destaque a um de seus pupilos na política, o secretário estadual de Educação, Gabriel Chalita.
¿ Para o governo de estado são muitos os nomes, estamos do lado de um aqui, o professor Gabriel Chalita. Quem vai indicar é o partido, mas é um grande nome ¿ disse o governador, citando ainda os nomes de outros secretários e de cardeais do PSDB, como o ex-ministro Paulo Renato de Souza, o deputado Alberto Goldman e o vereador José Aníbal.
Alguns tucanos interpretaram as declarações de Alckmin também como uma reação à especulação de que serristas o estariam pressionando para se manter no cargo até 31 de dezembro, para evitar que os dois principais cargos do Executivo paulista sejam passados simultaneamente para o PFL.
Com cargo no governo estadual, um tucano que prefere não se identificar, aposta na saída antecipada de Alckmin do governo. A idéia seria fortalecer a agenda de campanha neste início de ano, enquanto os outros partidos não definem nomes.
Para o secretário de governo de São Paulo, Aloysio Nunes Ferreira, o governador ¿tem feito seu papel¿.
¿ O governador repete que está disposto a concorrer à Presidência. Está fazendo o seu papel, mas é o partido que vai decidir ¿ diz Aloysio, um dos coordenadores da campanha presidencial de Serra em 2002.